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domingo, 31 de maio de 2009

LULUZINHA E A BUSCA DO TEMPO PERDIDO

Ao me deparar com um artigo do conhecido site Blog dos Quadrinhos, li que a personagem Luluzinha irá ganhar uma versão adolescente, afinal, ela só tem 8 anos, precisava envelhecer, como todo mundo. Tal notícia não trouxe nenhum fato novo, por aqui, nas vastas terras tupiniquins, a Turma da Mônica também ganhou uma versão adolescente, objetivando sabe lá o que diz esse departamento de pesquisas de opinião em atingir um grupo mais restrito, que cresceu, desenvolveu e largou a famosa turminha, e, talvez, deseja encontrar uma leitura mais de acordo com seus padrões, ler Mônica e Cebolinha com trinta ou quarenta anos fica meio que cafona, vai saber.Luluzinha (Litlle Lulu, em inglês) foi criada em 1935 pela cartunista Marjorie Henderson Buell, mais conhecida com Mairge, para o jornal The Saturday Evening Post, que cuidou dos traços e roteiro do personagem até 1945, quando a dupla Jonh Stanley e Inving Tripp passaram a cuidar da personagem, mudando o traço de seu desenho o que se deve pela modernização em que se passava na época, e cujo aspecto foi o que se adotou em sua famosa versão televisiva e perdura até os nossos dias.

Há muito tempo que eu estava querendo falar da Luluzinha, mas a notícia de seu pseudo-amadurecimento me possibilitou falar de dois aspectos: um, que eu já vinha pensando é claramente nostálgico, sim, eu era um fã da Turma da Luluzinha, adorava suas traquinagens, suas lendárias brigas com o não menos famoso Bolinha, que na verdade era apaixonado pela menina, ajudando-o a sair das mais diversas confusões . Mas o aspecto que me chama mais a atenção é que a personagem é uma pioneira feminista. Não era comum, na época, haver personagens femininos protagonizando histórias, ainda mais, histórias em quadrinhos, salientando-se que a referida personagem foi criada por uma cartunista.

Há ainda o aspecto de haver uma competição, na maioria das histórias, entre meninos e meninas, o que, no futuro, veio a se chamar de guerra dos sexos (Camila Paglia deve estar roendo as unhas com tamanho disparate), sendo já lendário o famoso aviso que existia no clube dos meninos, o taxativo “MENINA NÃO ENTRA”. Era engraçado e até inovador para a época, e não deixa de ser curioso que o vestido da Luluzinha é vermelho, da mesma cor do vestido da Mônica, bem, como poderia dizer alguém, nada se cria tudo se copia. Bem, pelo menos o sansão é exclusividade brasileira.

O outro aspecto que gostaria de falar é sobre a adaptação, ou deveria dizer, evolução dos mais diversos personagens para a época em que ele vive, bagunçando a cabeça de quem era fã de uma época, como eu poderia dizer mais antiga, para o público mais contemporâneo, oriundo de uma cultura derivada em pesquisas na internet e muitos fast foods. Bem, na minha modesta opinião e da maioria dos críticos que eu leio, tal adaptação é realizada de forma irresponsável, pela maioria dos editores, que pensam mais em seus bolsos ou nas suas opiniões pessoais do que no público que eles julgam como idiota, ou você acha que um leitor normal poderia compreender as mais diversas transformações por que passam os personagens, se você acha normal de uma lida em, por exemplo, no Homem Aranha, da Marvel, putz, até separam o personagem da esposa. E o Super-homem então? O personagem até casou, só esta faltando agora ter filhos (esqueçam o filme).

Não que eu seja contra as tais “atualizações”, mas considero que estas devem ser feitas com responsabilidade e muito cuidado, haja vista ser uma campo movediço, com enorme margem para o fracasso, e, se bem feitas, é lógico que serão muito bem vindas ( o Capitão América que era publicado nos anos 60 era um horror). A própria Marvel tem tentado realizar uma releitura de seus personagens, criando o universo Ultimate. É uma experiência legal, que foi bem sucedida com o Homem Aranha e a versão Ultimate dos Vingadores conhecida como Supremos, cuja as histórias publicadas nos dois primeiros anos já se tornaram clássicas, uma verdadeira antologia crítica ao sistema político norte americano, mas não vou estragar a surpresa, é melhor que o leitor de uma olhada.

Voltando ao tema que iniciou minha argumentação, modernização da personagem Luluzinha é até tardia, mas vem de encontro com o que as editoras estão produzindo nos últimos tempos. E não deixa de ter um aspecto naturalmente nostálgico e legal, estou curioso para saber como será o aspecto do Bolinha e do resto da turma. Bem, parece-me que a Turma da Mônica não encontrou nenhuma resistência por aqui, sendo até muito bem aceita.

Esses aspectos acima alinhavados me fazem recordar de uma das muitas frases da obra, composta em sete livros, do Marcel Prost, que é Em Busca do Tempo Perdido, que cunhou a seguinte observação:: “Acontece com a velhice o mesmo que com a morte. Alguns enfrentam-nas com indiferença, não porque tenham mais coragem do que os outros, mas porque têm menos imaginação”.

Para o infinito e além...

terça-feira, 26 de maio de 2009

A Batalha de Argel

O filme A Batalha de Argel (La Battaglia di Algeri), do italiano Gillo Pontecorvo, vencedor do Festival de Veneza de 1966, só veio a ser exibido aqui no Brasil nos anos 80. Esse atraso se deve à imposição da ditadura militar que governava o país em proibir sua exibição em território nacional. Isto não ocorreu apenas aqui. A Batalha de Argel ficou censurado em vários países por muitos anos.

Pontecorvo é um dos grandes (e polêmicos) nomes do cinema político italiano. Filmes como A Batalha de Argel, Queimada e Kapô, suscitaram longos debates em publicações como a Cahiers Du Cinéma e a Positif, na França. Por isso, não é de se estranhar a proibição de filmes seus em países que eram (alguns talvez ainda sejam) governados por homens ou classes totalitárias.

O filme mostra o processo pela independência da Argélia, colônia francesa até 1962. Um processo que se inicia com a articulação de um grupo revolucionário contra o regime francês, a FLN (Frente de Libertação Nacional), que se insurge em meio ao povo árabe do bairro argelino, a Casbah. O filme tem como fio condutor a transformação de Ali La Pointe (Brahim Haggiag), que de um simples delinquente de rua, passa a integrar a revolução, adquire consciência política e se entrega por inteiro à causa. Uma clara representação metafórica de qualquer processo de conscientização política de um povo.

Mas o que A Batalha de Argel nos revela é muito mais do que o processo – e a guerra – pela independência da Argélia. Entre o ficcional e o documentário, o filme revela os métodos de guerrilha tanto da FLN, como do exército francês. Enquanto a primeira se utilizava do terrorismo, com atentados ao bairro europeu, matando inocentes, o segundo utilizava a tortura de presos como recurso legitimado pelo que se entendia como a vontade do povo francês. Ao menos é o que dá como resposta um personagem do filme, alto comandante do exército francês, ao ser questionado sobre o uso da tortura.

“O problema é o seguinte: A FLN nos quer fora da Argélia e nós queremos ficar. (...) Quando FLN começou a rebelião não havia divergência. Todos os jornais, mesmo os comunistas, queriam sufocar a rebelião. (...) Somos soldados. Nosso dever é vencer. Assim, para ser direto, eu lhes pergunto agora: A França deve permanecer na Argélia? Se a resposta for afirmativa, devem aceitar todas as conseqüências”.

As imagens que se seguem a esta declaração denunciam os diversos tipos de tortura praticados contra prisioneiros argelinos, como afogamento simulado, choque elétrico, espancamento e queimaduras por maçarico.

Através dos meios de cada lado, o filme também ilustra, com acuidade documental, como se organiza uma facção terrorista e quais os mecanismos que, historicamente, levam uma organização rebelde de atos isolados de terror até a adesão e simpatia popular e conseqüente mobilização – como ocorreu na Argélia, mesmo depois da dizimação de FLN. Por outro, também mostra como a ação desrespeitosa aos direitos humanos por parte do poder militar instituído, pode ser eficaz na desarticulação do terror. Não por acaso o filme foi exibido recentemente no Pentágono, como parte de um manual para combater o terrorismo, o que certamente vai em sentido contrário ao espírito e propósito do filme.

Pontecorvo não se mostra maniqueísta na condução de seu filme. Embora as imagens sejam subjetivamente favoráveis à causa argelina, a construção do filme não poupa nenhum dos lados por suas atrocidades. Isso dá ao filme o grande mérito de confrontar o expectador com a realidade e fazê-lo questionar seu próprio discernimento sobre os fatos mostrados.

Dois momentos no filme ilustram bem esse conflito, pois exibem a desumanidade e a insanidade que tomam as pessoas quando se julgam arautos de uma causa legítima, ou quando simplesmente se vêem dominadas pelo medo e pelo ódio social. Numa delas, dois membros da FLN roubam uma ambulância e saem pelas ruas do bairro europeu atirando indistintamente nas pessoas, até que acaba a munição e eles passam atropelar as pessoas na calçada. Noutra sequência, após um atentado a bomba no Jóquei Clube, frequentado pela classe alta européia, um grupo de homens e mulheres passam a espancar gratuitamente uma criança argelina que vendia doces e estava tão assustada quanto eles.

Por todas estas nuances, A Batalha de Argel é um filme legítimo no retrato de um acontecimento histórico por trás do qual o humano e o desumano se confrontam e se aliam pelos caminhos próprios - e nem sempre dignos - dos ideais políticos. Não mascara a intrínseca sujeira que se esconde por trás da legitimidade, seja ela moral, ideária ou constitucional. Tampouco emite juízo, no máximo simpatia, mas condena igualmente o absurdo. É crítico, ácido e fiel á realidade. Um cinema a serviço da constatação, da reflexão e do registro histórico. No qual dois lados podem ter ao mesmo tempo absoluta razão e razão nenhuma.
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A Batalha de Argel (La Battaglia di Algeri)
Dir. Gillo Pontecorvo
Itália/Argélia – 1965
117 min.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Tá Chegando a Hora...

Mês de maio significa o final das temporadas das principais séries da TV americana. Significa também que chegou a hora de dizer quem fica e quem sai das grades de programação. Como sei que hoje em dia já temos acesso também às séries que não passam nos canais brasileiros, vou incluir aqui uma lista de todas as canceladas. Aqui você vai encontrar desde clássicos como ER, adorados como Battlestar Galactica e absurdos como Osbourne: Reloaded, cancelado após apenas um episódio. Quer saber se sua série preferida escapou? Então cruze os dedos prá que ela não esteja na lista abaixo.

ABC
- According to Jim
- Boston Legal
- Cupid
- Dirty Sexy Money
- Eli Stone
- Homeland Security USA
- In the Motherhood
- Life on Mars
- Oportunity Knocks
- Pushing Daisies
- Samantha Who?
- The Unusuals

CBS
- Eleventh Hour
- The Ex-List
- Game Show in My Head
- Guiding Light
- Harper's Island
- Million Dollar Password
- Swingtown
- The Unit
- Without a Trace
- Worst Week

CW
- 13: Fear is Real
- 4Real
- Easy Money
- Everybody Hates Chris
- The Game
- In Harm's Way
- Privileged
- Reaper
- Stylista
- Judge Jeanine Pirro
- Valentine

Fox
- Are You Smarter Than a Fifth Grader?
- Do Not Disturb
- Don't Forget the Lyrics
- Hole in the Wall
- King of the Hill
- MADtv
- Osbournes: Reloaded
- Prison Break
- Secret Millionaire
- Sit Down, Shut Up
- TALKSHOW with Spike Feresten
- Terminator: The Sarah Connor Chronicles

FX
- 30 Days
- The Shield
- Testess

NBC

- America's Toughest Jobs
- The Chopping Block
- Crusoe
- Deal or No Deal
- ER
- Howie Do It
- Kath & Kim
- Kings
- Knight Rider
- Late Night with Conan O'Brien
- Life
- Lipstick Jungle
- Medium (retomada pela CBS)
- Momma's Boys
- My Name Is Earl
- My Own Worst Enemy
- Superstars of Dance
- The Tonight Show with Jay Leno

Sci Fi Channel
- Battlestar Galactica
- Charlie Jade
- Stargate Atlantis

Showtime
- The L Word

domingo, 24 de maio de 2009

Horácio

Esse personagem é o que mais me encanta em todo o universo criado pelo nosso gênio das histórias em quadrinhos nacionais que é Maurício de Sousa Afinal, Horácio é um personagem estritamente filosófico no mundo concebido pelo referido autor. Eu o considero como o maior personagem das histórias em quadrinhos nacionais de todos os tempos, e não sou maluco.

Como é uma questão de foro íntimo, cada um que fique com sua impressão, mas já que Maurício de Sousa é, com o perdão da redundância, de longe, o maior criador de histórias em quadrinhos brasileiros de todos os tempos, e é mais do que natural que se considere o Horácio sua criação máxima. Estou falando do Brasil, mas poderia falar do mundo em todos os tempos. É difícil de encontrar em outros países personagens com tal envergadura, ainda mais em se tratando de um personagem cujo o público alvo deveria ser o infantil, ou o juvenil.

O nome do personagem não é obra do acaso. Quinto Horácio Flaco (foto abaixo) foi um poeta romano lírico e satírico e que também exercia as funções de filósofo que nasceu em Venúsia em 8 de dezembro de 65 a.c, vindo a falecer em Roma em 27 de novembro de 8.a.c (oras bolas, quadrinhos também é cultura). Dentro de muitos dos seus recursos literários se destacava a importância em se aproveitar o presente, o hoje, o agora, sem demonstrar a menor preocupação com o futuro. Horácio acreditava na vida após a morte, e que cada momento que a antecedia deveria ser aproveitado no seu máximo esplendor. Era o reconhecimento pela brevidade da vida e da forma de pensar desse lendário poeta.

Pois bem, o personagem Horácio, criado por Maurício de Sousa em 1963, para a Folhinha de São Paulo, nas tirinhas do Piteco ( que, na oportunidade, o encontrara no ovo, mas, devidos aos mais diversos rebuliços que causou na aldeia de Lem, teve que ser expulso), é um filhote de Tyrannossaurus rex, gentil, muito amigo e dedicado em ajudar o próximo. Mas, a sua marca magistral, e o que é um toque genial na construção do personagem, é sua opção em ser tornar vegetariano, sendo comum, em suas histórias, estar-se deliciando de sua “alfacinha”, antes de se enveredar nas mais diversas aventuras, em que são focadas a existência, a solidão, os relacionamentos, etc.

Seu principal objetivo é encontrar a sua mãe, que, como se sabe, e se não sabem, fiquem sabendo agora, que, através das mais diversas teorias dos paleontológos de plantão, abandonavam os seus filhotes, após o nascimento, quando esses ainda estão dentro dos ovos (repisando, quadrinhos é cultura, e da fina).

E aqui vai uma curiosidade que mostra o quão importante é o personagem, e que poucas pessoas, talvez, saibam, mas é o próprio Maurício de Sousa que se encarrega de desenhar e roteirizar as histórias do Horácio, com exclusividade, não delegando a função para mais ninguém. E não é por menos. Chego a fazer um paralelo com o lendário Mickey Mouse, criado e dublado pelo próprio Walt Disney.

É através deste personagem que Maurício de Sousa tece suas maiores críticas, realizando comentários, levantando teses, argumentando sobre os limites entre a ética, a razão, criticando o preconceito, o abandono, a solidariedade.

Ouso em dizer que, através dos gibis endereçados para as crianças, arregimentou uma enorme massa de pais que, na desculpa de comprarem os gibis para os seus filhos, eles mesmo se entretiam com as revisas em quadrinhos que adquiriam.

O filósofo homônimo do referido personagem, exprime, em uma das suas já famosas citações, a essência do personagem, que é a "Não terás razão em chamar feliz àquele que muito possui." Tal frase exprime a verdadeira vocação do personagem. Ser feliz com o pouco que possui e maximizar a vida em sua plenitude. E enviar uma mensagem aos maus humorados ( e eu sou destinatário dessa missiva). Aproveitar a vida, nas menores e maiores oportunidades e acreditar que tudo é possível.
Vida longa à Horácio...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A Piada Mortal

Primeiramente, é meu dever realizar alguns agradecimentos singelos, mas justos, a dois dos idealizadores desse blog, Ronaldo e Nathalya, pois, como eu disse uma vez, amigo é como informante, em audiência de instrução, nunca ele irá depor contra a pessoa que na verdade é seu amigo ou parente. Mas, apesar de grandes amigos, são, também, competentíssimos críticos, e, por tal razão, referidos elogios vindos de tão ilustres e gabaritados profissionais, torna imperioso que esse escriba trate esse espaço que lhe é reservado com o máximo de carinho e respeito, o que é o mínimo que deve ser feito.

E não me esqueci do meu grande amigo Roger. Uma vez, assistindo ao Show dos Racionais, em Itaquera, Mano Brown chamou Jorge Ben ( para mim é esse nome da fera e não àquela coisa de “Ben Jor”, ridículo) de Mestrão... parece brincadeira, mas não é, pois é a medida do tratamento que tal crítico é merecedor, seus texto são limpos, cultos, ou seja, tenho que aproveitar a oportunidade para aprender o máximo...não é todo dia que Péle desce do topo para ensinar a esse juvenil como chutar ao gol... agradeço e muito pelos elogios, mas é sinal de me esforçar ao máximo para não deixar a peteca cair.

E meu grande amigo Roger, com sua vasta sabedoria, me deu o mote para poder falar de não um, mas de duas lendas das histórias em quadrinhos: Neal Adans, que tratarei em momento oportunoque é Danny O’neil (eu tenho uma obra que fala da carreia dos dois, mas vou deixar para uma próxima coluna, preciso de um tempo maior para pesquisar, e eu não sou o Clark Kent, oras bolas).

Mais precisamente Danny O’neil, mas não o seu trabalho artístico e sim o de editor. O sujeito teve a sorte grande de ser tornar o editor de nada mais e nada menos do que A Piada Mortal, o que não é pouca coisa, e esta foi herdada do antigo editor da DC, outra lenda viva que é Len Wein, que se retirou após realizar um dos maiores trabalhos de toda a sua carreira, e a qual é considerada por muitos como a maior história já contada do Super-homem, escrita também por Alan Moore e achando que já tinha feito de tudo, se aposentou. Estou falando da história O Que Aconteceu com o Homem de Aço, desenhada com o brilhantismo de sempre pelo mítico Curt Swan, um dos maiores desenhistas de todos os tempos e talvez o maior artista a desenhar o Super-homem.

Para mim, mais particularmente em relação ao universo das histórias em quadrinhos que norteiam o mundo dos super-heróis, e que são, não por acaso, as que despontam com as mais vendidas, principalmente no mercado norte-americano, o maior consumidor desse tipo de entretenimento, há uma espécie de santíssima trindade que considero como modelos par aque u possa me balizar em relação as possibilidades de construção de uma analisa mais profunda e balizada no tocante aos clássicos das histórias em quadrinhos e semelhantes. Começo com Marvels de Alex Ross e Kurt Busiek, estupendo; o Reino do Amanhã, também de Alex Ross, mas agora com Mark Waid, muito acima da média e visceral; e A Piada Mortal, de Brain Bolland e Alan Moore, esse sim, um clássicasso, que influenciou muita gente boa nos quadrinhos. E olha que estou deixando muita gente boa de fora como Neil Gaiman (Sandman) e Mike Mignola, (Hell boy) para ficar somente naqueles que poderiam jogar no primeiro time em grande nível (sim, eu também faço metáforas futebolísticas). Ainda tem o grande Brian Michael Bendis, que já realizou grandes histórias como Aliás, mas, devido aos seus diversos deslizes no dito universo Ultimate, mais precisamente a saga do clone do Homem Aranha Ultimate, que foi um lixo (só de lembrar da história do clone no universo tradicional da Marvel já é de arrepiar) no qual andou dando umas escorregadas bravas, me fez rever o enorme conceito que eu tinha pelo referido profissional, mas não vou me estender muito, isso merece uma análise mais criteriosa em outra oportunidade.

Ah! Eu não sou um daqueles que rezam e comungam a cartilha do Cavaleiro das Trevas. Reconheço que é uma história muito boa, acima da média, com uma visão muita própria e especial dos personagens do universo a que se propôs em descrever. Mas não me causa nenhuma nostalgia, não corro ao primeiro sebo para procurá-la, e não acho Frank Miller isso tudo(na minha concepção, e olha que eu já li de tudo). Considero a Queda de Murdock, que é um arco das histórias do Demolidor, publicadas pela editora Marvel, e um dos seus personagens mais marcantes, disparado, o seu melhor trabalho, mas disparado. E não sou um crítico maluco, que atira para todo lado, pois considero que na sua prolífica carreira de roteirista, desenhista de histórias em quadrinhas, mais acertou do que errou (Acho América intragável).

Além disso, super-herói é para mim a acepção literal do termo, algo mítico, que realiza missões além do impossível, e é na famosa frase cunhada pelo padre Henri Martin, amigo do lendário Barão de Coubertin, o criador da Olimpíada moderna, que exprime sua principal característica, qual seja, 'Citius, Altius, Fortius' (que em grego significa 'O Mais Rápido, O Mais Alto, O Mais Forte'). E a Piada Mortal se insere nessa contexto para lá de Olímpico.

Em A Piada Mortal, Batman tem que ser o mais super possível, em contraste com a enorme loucura que cerca a história, haja vista as possibilidades e limites que destoam o ser humano, em contraste com o personagem do Coringa, o seu sofrimento, a perda de seus entes queridos, a interminável angústia, tudo isso revestido de um flagrante clichê, mas o foco narrativo é levado com tal competência que chega a ser novo. Tanto Batman quanto o coringa, que é o personagem central da trama, apresentam diversas similitudes em suas personalidades, mas isso todo crítico em quadrinhos já falou. Não, para mim, o mais interessante, e que torna a história mais saborosa de ser lida e relida é analisando todos os personagens, e seus perfis, é traumatizante constatar que a qualquer deslize, qualquer mero dissabor, qualquer acidente, seja o mais infímimo que for, pode levar uma pessoa comum a loucura, é o limiar da perplexidade e da tragédia que norteia toda a trama e é algo que o grande escritor alemão Hermann Hesse trabalha com grande genialidade em suas obras psicanalíticas.

O brilhante roteiro apresentado por que Alan Moore é a cereja no bolo, e teve o mérito de condensar em uma pequena história o quanto é ínfima a diferença entre o bem e o mau, o que, nas mãos de um roteirista menos talentoso, poderia descambar para uma bagunça sem fim, haja vista ser o tema uma tremenda areia movediça.

Por curiosidade, ou por mera coincidência, a trama me faz lembrar do filme “Um dia de Fúria” com Michael Douglas e Robert Durvall, mas isso é seara alheia, já capitaneado pelo meu grande mestre, o Roger que poderá falar de forma mais competente sobre o tema em questão.

Como já dito alhures, a um paralelo entre o crível e o incrível, o totalmente comum, e ao mesmo tempo incomum e super, ou você acha que é só nos quadrinhos que as pessoas ficam neuróticas? A Piada Mortal é a síntese do universo das histórias em quadrinhos de super-herois tal como conhecemos hoje, uma referência que dever ser lida de forma tranqüila, apreciando cada sacada inteligente.

Para encerrar, ninguém mais do que David Gibbons para falar de Alan Moore, que em poucas palavras disse que “(...)Alan escreveu algumas das mais retumbantes histórias sobre os seus personagens, tanto principais quanto secundários, que já foram imprensas. Elas vão do fantástico ao poético, passando pelo assustadoramente realista e nos permitem ter uma idéia de amplitude da escrita de Alan, seu domínio da linguagem e maestria em descrição e diálogo. Mas acima de tudo, elas mostram que a magia pode fazer parte do universo, se você realmente prestar atenção”. (Grandes Clássicos – Alan Moore – Editora Panini Comics – pagina 8).

Precisa explicar mais? Para o alto e avante...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Som que vem dos nervos

Imagine misturar samba, forró e ritmos com o som do Japão, Bolívia e Paraguai. Difícil? Pois o músico, maestro e compositor Livio Tragtenberg não só misturou, como percebeu nas ruas de São Paulo uma trilha sonora pra lá de original.

Formada por 17 artistas populares, anônimos e imigrantes que tocam nas ruas, praças e nas estações de trem e metrô da cidade, Livio montou a Neuropolis, Orquestra dos Músicos das Ruas de São Paulo.

A música que carrega os mais variados sons e instrumentos, apresenta uma diversidade enorme, contida na bagagem de cada integrante. É possível ouvir desde sambas acompanhados por harpa paraguaia até forrós balanceados ao som de guitarón (contrabaixo mexicano) e da flauta boliviana. Sem contar emboladores e repentistas improvisando da batida do koto - instrumento de tradição japonesa.

Segundo Livio “esses músicos são como nervos do corpo humano, estão ocultos, mas por eles transitam alma e sensações nervosas. Isso explica origem de neuro-polis que significa cidade dos nervos” afirma o maestro.

O projeto virou um CD que não deixou de homenagear à condição dos seus integrantes: Toda mistura de raça aqui em São Paulo tem/ em qualquer hora do dia é o maior vai e vem/São Paulo é a capital que não para de crescer/ vem gente de todo canto para em São Paulo viver.

Com muito humor e swing estão combinadas as diferentes fontes e raízes musicais que formam um mosaico circulante na cidade. Uma experiência um tanto agradável para quem gosta de música popular brasileira.


quarta-feira, 20 de maio de 2009

A moda da decoração

Moda e decoração, dois temas que me apetecem... então só sobrou escrever sobre isso! Para a decoração eu sou paga, sou obrigada a ler as revistas do segmento e me manter mais informada possível, foi assim que conheci esta arte e acabo conhecendo muitas coisas curiosas. Moda já faz parte de minha vaidade, consumista assumida, sempre me interessei e sou escrava total, embora tenha meus momentos de pijama dentro de casa.

Tentarei sempre ser breve e menos fútil possível, será que consigo? Vou focar em dicas bem bacanas, úteis e praticas, para fugir da mesmice das revistas e sites, principalmente tentando optar por coisas acessíveis e reais. Quando comecei a trabalhar com decoração descobri um universo paralelo: o mercado de luxo. Onde existem pessoas que gastam R$ 150 com 1 metro de tecidos, acredite! Mas foi neste universo que conheci coisas curiosas, maneiras de transformarmos nossa casa em ambientes melhores, como na tese de Alain de Boton, autor de “A Arquitetura da Felicidade”, onde afirma que ao decorar um cômodo, as pessoas querem mostrar quem são, lembrar de si próprias e ter sempre em mente como elas poderiam idealmente ser. O lar, portanto, não é um refúgio apenas físico, mas também psicológico, o guardião da identidade de seus habitantes.

É possível sim termos em nossas casas referencias de nossa personalidade, é visível identificar a cor favorita, o estilo de vida, ou gostos. Antes acreditava que decoração é luxo, ter papel de parede e móveis caros, mas hoje em dia até a Casas Bahia tem móveis lindos. Até Marcelo Rosenbaum, arquiteto carioca famosíssimo por seu estilo rococó, tem reality show no Caldeirão do Huck, tornando a arquitetura acessível a todos.

Pense em decorar sua casa, inserindo objetos únicos, que tenha a sua personalidade!

Recentemente conheci a marca I.Stick e seu blog, marca de adesivos decorativos, como ela existem muitas outras. São adesivos de tudo quanto é tipo que podem ser aplicados nas paredes e podem transformar um ambiente. Confesso que a idéia é bem inovadora, mas é um sucesso. Têm temas infantis, românticos, modernos, masculinos, uma forma de mexer no seu quarto sem grandes revoluções. Tem adesivos de R$ 70 até R$ 500.

Além das paredes eles podem decorar eletrodomésticos e eletrônicos, para os que optem por uma inovação mais discreta. Muitas cores, monocromático, frases românticas, desenhos engraçados, enfim tem para todos os gostos.


terça-feira, 19 de maio de 2009

20 Anos

Já tendo se tornado quase que um gênero do cinema, as adaptações de HQs crescem a cada dia e o que é melhor - ao menos para os fãs, que já sofreram muito com o descaso - muitas têm se mostrado fiéis ao espírito de personagens e heróis. Por isso, acho importante lembrar que em 2009 completam-se 20 anos de um divisor de águas neste gênero, um filme que marcou definitivamente os fãs de HQs e abriu caminho para o que se tem hoje nos cinema dentro desse gênero. Estou falando de Batman – O Filme, dirigido por Tim Burton, lançado em 1989.

Onze anos antes, em 1978, outro importante super-herói dos quadrinhos ganhava uma adaptação inesquecível para os cinemas. Dirigido por Richard Donner, Superman – O Filme é uma obra que encantou mais de uma geração e fixou-se definitivamente em nosso imaginário. Como adaptação, é superior ao filme de Burton. Contudo, do ponto de vista da importância para se criar e abrir mercado para um gênero, Batman – O Filme tem um peso muito maior.

A ida de Batman para o cinema é conseqüência direta do sucesso da saga O Cavaleiro das Trevas, novela gráfica lançada em 1986 roteirizada por Frank Miller. Nela, o personagem é aprofundado, ganhando traços psicológicos oblíquos e personalidade sombria. Uma transformação que já vinha ocorrendo nas histórias de carreira do personagem desde que a dupla Dennis O´Neil (roteiro) e Neal Adams (desenho) havia assumido as histórias do personagem, mas que Miller elevou a um patamar superior de refinamento, arte, drama e literatura. Mas isso já é assunto para o Carlão, nosso colunista de quadrinhos.

Foi na esteira desse ressurgimento e do sucesso de O Cavaleiro das Trevas que os produtores de Hollywood viram a chance de levar para as telas um personagem de HQ. Naturalmente que não se basearam na novela de Miller para o roteiro do filme, pois seria radical demais para a época. Mas graças ao estilo inconfundível de Tim Burton (como se veria no futuro em filmes como Edward, Mãos de Tesoura, O Estranho Mundo de Jack, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e, mais recentemente, Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet), então um diretor quase desconhecido, alguma coisa do personagem foi preservada.

O filme de Burton tem defeitos que desagradaram bastante aos fãs. Mas o filme também tem acertos marcantes, principalmente na caracterização da cidade de Gothan City, na ambientação sombria e opressora do universo do personagem e na interpretação do Coringa por Jack Nicholson. Contudo, o filme se equivoca drasticamente no roteiro mal trabalhado e na superficialidade de personagens importantíssimos para a mitologia do herói. Há também o erro grave na escolha de Michael Keaton para o papel de Bruce Wayne e demais questões técnicas, como a falta de mobilidade do traje-armadura que o herói usava.

Porém, não creio que valha agora entrar no mérito de sua qualidade, seja como cinema, seja como adaptação. O que importa é que para a época foi um marco importante do cinema de entretenimento, cujo sucesso estrondoso abriu portas para uma continuação sob a batuta do mesmo Burton, que caprichou mais ainda nos elementos sombrios, cenográficos e de figurino, mas repetiu os mesmo erros nos outros aspectos. Quanto aos dois filmes seguintes, dirigidos por Joel Schumacher, não há nada que se dizer. São asquerosamente desprezíveis e dignos do mais absoluto repúdio. Que fiquem no esquecimento.

Hoje, felizmente, o herói já tem duas novas adaptações lançadas. Um recomeço de sua saga muitíssimo bem executado pelo diretor Christopher Nolan que conseguiu – especialmente no último filme - um resultado surpreendente na intensificação filosófica e de profundidade de caráter do personagem, trazendo para o cinema a dignidade e dimensão clássica que o herói recebeu nos quadrinhos de nomes como Dennis O´Neil, Frank Miller e Alan Moore.

De 1989 até hoje, não só Batman, mas muitos heróis dos quadrinhos já foram transpostos para as telas dos cinemas. Alguns ainda não receberam o tratamento digno que merecem, como o Demolidor e o Justiceiro, cujas adaptações não fazem jus a suas proporções como heróis. Mas depois de filmes como Homem-Aranha 2, X Men 2, Hellboy, Homem de Ferro, Sin City, Watchmen e alguns outros, os fãs de HQs já se sentem menos apreensivos quando ouvem falar de alguma adaptação sendo produzida. Há 20 aos atrás Batman – O Filme, abria os caminhos para isso. Bem ou não tão bem assim, deve-se a ele esse mérito inquestionável.

Quanto a mim, ter estado na primeira fila do já falecido Cine Marrocos, no dia da estréia, não deixa de me trazer um certo orgulho.

A Grande Voz

Alguns artistas são conhecido por um único trabalho e depois caem no anonimato, mas dessa vez vamos falar de um "multifuncional" do mundo audiovisual: Isaac Hayes.

Nascido em 20 de agosto de 1942 na cidade de Covington no Tennessee, começou sua carreira como instrumentista de várias bandas para a gravadora Stax Records onde também lançou seu primeiro disco: Presenting Isaac Hayes de 1967. O disco foi um fracasso comercial, talvez porque Isaac se utilizou da improvisação num momento Jazz de sua carreira.

Foi em 1971 que Isaac se consagrou com um grande artista compondo e interpretando a trilha Shaft. Filme que ganhou uma regravação em 2000 estrelado por Samuel L. Jackson e por Christian Bale (mais conhecido como Batman), a película vem de uma época bastante peculiar, pois um movimento fez crescer a cultura negra, era a Blaxploitation, num sabe o que é isso? movimento cinematográfico norte-americano feito por negros e para esse público, passou por ela, além de Issac Hayes, que chegou a interpretar alguns papeis para esse tipo de filme, nosso grande James Brown. Quentim Tarantino, diretor, ator e um exímio criador de trilhas para o cinema, utilizou-se da música Run Fay Run de Hayes para o fime Kill Bill, mostrando o quanto o Blaxploitation influenciou gerações.



*** curiosidade sobre Shaft de 2000 é que: o tio de John Shaft (interpretado por Samuel L. Jackson), o ator Richard Roundtree, foi o primeiro Shaft na versão de 1971. ***

A trilha sonora de Shaft redeu a Isaac não só a indicação ao Óscar mas a estatueta, além desta consagração Hayes recebeu também o Golden Globe e o Grammy Awards.

O sucesso para um artista talentoso era questão de tempo e a sua carreira teve grande propagação depois disso. Ficou conhecido pela música com marcação forte de baixo e guitarras wah-wah e como toda boa soul music um bom conjunto de metais.

Para tudo! E a voz de Isaac? Conhece a voz de Barry White? para mim a de Isaac é bem mais marcante com um timbre bastante grave, em um tom absurdamente único.

Sua voz era tão extraordinária que foi convidado pela Central Comedy para estrelar o personagem Chef do South Park, o personagem era dos mais engraçados do programa e fazia a diferença quando começava a cantarolar. O sucesso desse personagem, que era o chefe de cozinha de um colégio da cidade, foi tanto que a canção "Chocolate Salty Balls (P.S. I Love You)" chegou ao primeiro lugar no Reino Unido.

Lamentavelmente, o nome Isaac Hayes não é tão conhecido quanto deveria ser. A carreira brilhante desse compositor, arranjador, interprete e ator, deveria ser mais lembrada e tocada. Por isso resolvi não colocar uma música dele e sim duas. Pára o que você está fazendo e ouve...


domingo, 17 de maio de 2009

Virados prá Lua

Maddie Hayes e David Addison. Esses são os culpados pelo início da minha paixão por seriados de TV. Quem tem mais de 20 anos, provavelmente se lembra de um dos seriados de maior sucesso aqui no Brasil numa época em que continuidade e respeito pelo telespectador por parte dos canais de televisão era um sonho distante.



A Gata e o Rato (Moonlighting) conta a história de uma modelo famosa (Maddie, interpretada por Cybill Shepherd) que leva um golpe de seu empresário e se vê à beira da falência. De seu patrimônio resta apenas a agência de investigações City of Angels. Diante de sua grave situação financeira, Maddie decide vender a empresa, que em seus três anos de operações nunca lhe rendera lucro algum, servindo apenas para obter descontos no imposto de renda. Ao visitar o escritório para comunicar sua decisão ao detetive encarregado do local, Maddie se depara com David Addison (Bruce Willis). Cínico, pretensioso e metido a garanhão, David não impressiona Maddie como pessoa, investigador e muito menos com suas tentativas de flerte. Esse primeiro encontro desastroso termina com David ofendendo Maddie que por sua vez lhe dá um tapa na cara. O que acontece a seguir é uma série de tentativas por parte de David para convencer Maddie a se juntar a ele na agência. É numa dessas tentativas que o nome da agência passa a ser Lua Azul (nome da linha de xampús pela qual Maddie ficou conhecida). Depois de muitas brigas e aventuras, ela finalmente cede e a partir daí David e Maddie passam a trabalhar em casos que íam de assassinatos a infidelidade conjugal e a agência pouco a pouco começa a funcionar como deveria e a conseguir novos casos.

No entanto, não são os casos e investigações a maior atração da série. As constantes brigas e tensão sexual entre os sócios são o tempero e o que realmente atraía o público. A química entre eles era inegável e o diálogo rápido e repleto de nuances e insinuações cativava e entretia sua audiência. Adicione-se aí a divertida Agnes Topisto com suas rimas e indiscrições e temos uma combinação de sucesso.

A crítica também foi conquistada pela inteligência discreta e muitas vezes despercebida da série. A Gata e o Rato não se limitava a gêneros e a convenções adotadas pela TV de então. Além disso, usava e abusava da metalinguagem. Em muitos episódios, os atores falavam diretamente com o público, ou deixavam o personagem, usando seus próprios nomes durante as cenas; era possível ver o cenário de gravações e equipe de filmagem, que chega a aparecer cantando uma música natalina durante 'O Episódio de Natal' (Twas the Episode Before Christmas) na segunda temporada.

A série usava tão bem da mistura entre mistério, drama, romance e comédia que era difícil categorizá-la, ficando conhecida como a primeira dramedy (drama+comédia). Para se ter uma idéia, ela foi a primeira sére a receber indicação de melhor direção em seriado tanto de drama quanto de comédia nos anos de 1986 e 1987 pelo Directors Guild of America. Para o Emmy, a série era sempre indicada na categoria drama, já o Golden Globes a classificava como comédia. Falando em premiações, a série recebeu inúmeras indicações e rendeu ao ator Bruce Willis o Emmy e Golden Globes de 1987 e à Cybill Shepherd os Golden Globes de 1986 e 1987. Até a música tema Moonlighting de Al Jarreau foi indicada ao Grammy em 1988.

Se nas telas A Gata e o Rato era muito bem sucedida, o mesmo não se podia dizer de seus bastidores. Desentendimentos entre os atores e produção (que culminou com a saída do criador da série Glenn Gordon Caron), a gravidez de Cybill Shepherd e a nova carreira cinematográfica de Bruce Willis foram alguns dos motivos que levaram à perda de qualidade em suas duas últimas temporadas e ao cancelamento da série. Existem rumores, o mais recente do começo desse ano, de que A Gata e o Rato poderia virar um filme e que ambos os atores estaria dispostos a fazê-lo, mas por enquanto não há nada de concreto.

Sem dúvida, uma das mais inovadoras e bem sucedidas séries de TV, ao completar 20 anos de cancelamento, A Gata e o Rato ainda é lembrada com carinho pelos fãs.

Onde assistir?
Atualmente a série não está na grade de nenhum canal de TV, mas o canal a cabo TCM prometeu voltar a exibi-la esse ano.
No Brasil estão disponíveis as 4 primeiras temporadas em DVD.

Por onde anda?
Bruce Willis: blockbusters
Cybill Shepherd: pequenas participações em seriados de TV
Glen Gordon Caron (criador): série Medium

Curiosidades:
- Não existe confirmação por parte de Glenn Gordon Caron, mas acredita-se que a série teria sido inspirada no filme "His Girl Friday" de 1940, estrelado por Rosalind Russel e Cary Grant.
- algumas das participações especiais de peso são Orson Welles (A Seqüência do Sonho/The Dream Sequence Always Rings Twice), Whoppi Goldberg (Camile/Camille), Pierce Brosnan (Encrenca em Profusão/The Straight Poop) e Don King (Sinfonia e Pancadaria/Symphony in Knocked Flat).

Dados técnicos:
Duração: 5 temporadas (1985-1989)
Total de episódios: 67
Elenco principal:
Madeline 'Maddie' Hayes: Cybill Shepherd
David Addison: Bruce Willis
Agnes Topisto (ou no original Agnes Dipesto): Allyce Beasley
Bert Viola: Curtis Armstrong

sábado, 16 de maio de 2009

O pilantra do Patropi



Está nos cinemas o documentário "Simonal, Ninguém Sabe o Duro que Dei", dirigido por Claudio Manoel , Micael Langer e Calvito Leal, uma obra belíssima do cinema brasileiro documental que relembra os grandes sucessos do músico, seu sucesso e popularidade, sua triste derrocada rumo à amargura do ostracismo e a consequente repulsa da qual foi vítima.

Assisti ao filme no Projeto Folha Documenta, no Cine Bombril. Na heterogênea plateia estavam presentes jovens que, assim como eu, provavelmente só ouviram falar de Simonal após o sucesso dos filhos do cantor, Max de Castro e Wilson Simoninha. Haviam também senhoras que gastaram a sola nos bailinhos embaladas pelas canções dele. Eu não conhecia metade da vida do Simonal e fiquei boquiaberta com o primor que os diretores tiveram para colher os depoimentos e contar uma história tão envolvente quanto polêmica.

O filme é claramente dividido em duas partes. A primeira conta como o cantor se transformou na maior voz da música brasileira, rivalizando com Roberto Carlos, mostra o sucesso de seu programa na Record, Show em Si...monal, e retrata a adoração do público que fez o cantor ser vislumbrado pelo sucesso. Já a segunda mostra sua queda rumo ao esquecimento.
Afinal, um negro, pobre, filho de empregada doméstica e ex-cabo do Exército se transformou em um dos maiores cantores e apresentadores de tv nos anos 60, sua influência e talento ultrapassou a esfera nacional e o cantor chegou a dividir com a diva do jazz Sarah Vaughanah a canção “The shadow of your smile" (pena que no Youtube não tem o selinho entre os dois retratado no filme).

Simonal era um negro, filho de empregada doméstica, que ganhou status e virou um bon vivant, degustava dos prazeres da vida e só queria saber de “Alegria, alegria!”. Em uma época de rivalidades ideológicas, o cantor não tomava partido contra ou a favor da ditadura. Por ser imparcial, era odiado pela direita ao deixar de combater os comunistas, e pela esquerda por cantar o “País Tropical”, de Jorge Ben e não se rebelar contra o governo, o sucesso de Simonal era traduzido como o ópio do povo. Entretanto, ele pagou um preço alto por ter tanto sucesso.

Dura pena
O tormento de Simonal começa quando o cantor afirma ter sido roubado pelo seu contador Raphael Viviani e convida uns amigos para dar uma lição neste cara. O problema é que esses amigos eram do Dops. O grande diferencial do filme é que retrata o depoimento do próprio Viviani que conta, tardiamente, o seu lado da história. Quando levado para a delegacia acusado de ter sequestrado e torturado Viviani, Simonal fez uso da malandragem e comete o erro de dizer que atuava ao lado do governo. Então, a mídia e a classe artística tiveram um prato cheio para destruir o maior ícone da atual MPB.

Nesta hora, por não ter um círculo de amigos musicais influentes, como os integrantes da Tropicália, ele se viu sozinho e condenado ao esquecimento e o povo o abandonou ao ler as notícias de seu envolvimento com a mão de ferro da ditadura, publicadas pelo Pasquim de Ziraldo e Jaguar, (figuras que dão importantes depoimentos no filme). Para alguém tão acostumado com o sucesso, a partir daí começa a surgir a depressão, o alcoolismo e a overdose de ostracismo, que culminou no seu falecimento, em 25 de junho de 2000, aos 62 anos, por conta de uma doença hepática crônica.

O duro que eles deram
O documentário revira histórias polêmicas, mas fica longe de ser uma defesa de Simonal. O filme dança com o espectador, levando-o de um lado ao outro da história, sem tomar partido, deixando que o próprio público tire suas conclusões.

No debate do Cinebombril, o “casseta” estreiante na direção, Claudio Manoel relata as dificuldades percorridas na batalha para fazer o filme. Tanto é que o longa tem um patrocinador que preferiu ficar anônimo, graças a polêmica de Simonal. Isto retrata, como o cantor é mal visto até hoje.

Claudio Manoel acredita que, assim como o nazismo, as atrocidades cometidas durante o período ditatorial devem ser contatadas, sob pena de não voltarem a acontecer, porém o diretor afirma que Simonal pagou muito caro e por um crime que não cometeu. O diretor também chama atenção para o fato de que o caso Simonal ter sido a única denúncia de tortura do Dops imune das garras da censura e divulgada livremente pela imprensa durante o governo ditatorial. O incrível é que anistiamos gente que cometeu atos desumanos durante o regime, mas o fantasma de delator não saiu de Simonal até os dias de hoje.

Perdão tardio
Agora, o filme dá o pontapé inicial para o revival de Simonal. Em breve, o longa sairá em DVD, haverá dois livros sobre a vida do cantor e o relançamento da caixa "Wilson Simonal na Odeon: 1961-1971" pela EMI, que conta com um disco inédito.

O diretor Claudio Manoel , no blog do filme, “São mais de 6 anos de muita rala, suor, paixão, expectativas, apostas, dúvidas, etc e tal… e tudo vai ser decidido nesse próximo fim de semana”. Muita gente já compareceu engrossando a anistia tardia ao “Simona”, como a escritora Ivana Arruda Leite e eu confesso que, mesmo engrossando as estatísticas de desempregados deste país, pretendo seguir a dica do Sérgio Rizzo e deixar de lado Anjos e Demônios, de Ron Howard, e Desejo e Perigo, primeiro longa-metragem de Ang Lee depois de O Segredo de Brokeback Mountain, para prestigiar a obra novamente. E você, vai ficar de fora?

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Será Pato Donald Humano?

Poderia começar a falar nessa coluna de várias formas, e uma das várias possibilidades seria falar de Will Eisner, considerado por muitos (e por mim mesmo, oras bolas), o maior artista de histórias em quadrinhos de todos os tempos, com suas histórias repletas de closes panorâmicos, imagens cinematográficas, mulheres fatais, sim, é do Spirit que eu estou falando, mas isso deverá ser tratado em outra oportunidade, com mais calma.

Poderia falar do primeiro super-herói fantasiado. Sim, o Fantasma, de Lee Falk, criado em 1936, o famoso “espírito que anda”, com a marca da caveira, seu lobo (lobo?! você também achava que ele era um cachorro?) conhecido como Capeto, seu cavalo Herós, a tribo de pigmeus, os clãs de antepassados, etc.

Poderia viajar e falar dos Sobrinhos do Capitão, criado em 1897, por Rudolph Dirks, que foi a primeira história a utilizar o formato de edição adotado até hoje, seu foco são os gêmeos Hans e Fritz, que retrata as peraltices destes personagens, uma história singela, mas marcante.

Não, desses até poderia falar, mas me falta papel nessa oportunidade, pois são merecedores de digna atenção. Então, resolvi começar essa coluna com um personagem que é a minha cara, e talvez a de muitos dos dignos apreciadores da Nona Arte.

Donald Fauntleroy Duck (sim, esse é o nome dele) foi criado como personagem de desenho animado em 1934, pelos estúdios de Walt Disney. Um pato branco, com roupa de marinheiro (sem calças), pernas e bico alaranjados.

E por que o Pato Donald? Porque o considero um dos mais influentes personagens de toda a história em quadrinhos, tudo isso advindo de sua personalidade marcante, para não dizer complexa. Não? Pois bem, quem mais poderia ser ao mesmo tempos mesquinho e generoso, ciumento e companheiro, vingativo mas amigo de todos, rude e carinhoso, azarado mas feliz.

Diga nobre leitor, que outra personagem poderia reunir, em uma mesma personalidade a mais vasta conjunção de qualidades e defeitos?

E são essas qualidades que o tornam mais marcante, isso se deve a duas lendas dos quadrinhos, Carl Barks, conhecido como o “homem dos patos”, que criou toda a mitologia que cerca a mais conhecida ave deste mundo, e Don Rosa, que até criou uma árvore genealógica para explicar a origem do personagem.

O mais legal, para não falar o mais significativo, é que o personagem é o que reúne a maior caracterização de qualidades humanas, o que talvez explique seu enorme sucesso. Ora, nós, seres humanos, que vivemos em uma sociedade amalucada, temos as mais diversas maluquices. Somos ciumentos (Gastão), fofoqueiros, ranzizas, mas me apoio em Montesquieu, pois vivemos em sociedade na base do companheirismo, sempre ajudando uns aos outros, e essa é a maior qualidade do personagem, demonstrada em inúmeras histórias, cercado pelos sobrinhos de sua irmã (solidariedade), sua devoção pela eterna namorada, a Margarida (amor e ciúme), e lealdade e compreensão com o próximo (pois que outro motivo poderia explicar suas inúmeras aventuras com seu tio pelo mundo).

Mas o mais marcante e hilariante para mim são os seus ataques de raiva, que o consomem, sendo a sua cara de bravo, a mais conhecida do mundo talvez (sua cara de bravo, esta colada em inúmeras portas de quartos e janelas de automóveis de todo mundo). É um personagem que nunca vai perder o seu carisma e originalidade, graças à sua maior qualidade, a de ser simplesmente humano.

Vou terminar por aqui, mas retornarei ao personagem em outras oportunidades. Por quê? Há muito o que ser dito, ou você acha que não vou falar de seus eternos amigos? Deles mesmo, Mickey, Pateta e companhia em um outro post? Com certeza!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Brasil: um país de leitores

Eu sou a favor da democratização da cultura e da troca de conhecimentos e experiências. Mas ao contrário do que muita gente pensa, para ampliar o acesos à cultura não é preciso nenhum esforço descomunal de governos, prefeituras, entidades. Alguns pequenos gestos sempre fazem a diferença e eles só dependem de nós.

Como deixar um livro no metrô, por exemplo. Dias atrás eu vi no twitter (esse troço vicia) que a Soninha ia "esquecer" o livro "tal" no metrô.

Achei genial. Certa vez eu deixei um livro e um cachecol no metrô. Mas eu esqueci mesmo. Sorte de quem achou.Enfim, eu nunca achei um livro no metrô. Acho que eles são como os guarda-chuvas. Eu já perdi a conta de quantos guarda-chuvas eu perdi e nunca encontrei nenhum. Aonde será que eles vão parar? Deve existir uma Guardachuvolândia. Assim como deve ter a Livrolândia.

De uns tempos para cá, eu reparei em como está cada vez mais fácil e maior o acesso à leitura. Grandes livrarias viraram points cults, como a Livraria Cultura e as megastores da Fnac e Saraiva.

Nas bibliotecas você encontra uma infinidade de títulos grátis à sua disposição. Outro bom lugar para achar raridades é em sebo (fiz uma matéria falando sobre isso). Esses lugares têm uma atmosfera mágica e as prateleiras escondem tesouros esquecidos no tempo. Ah, além de grandes histórias, como a vez em que o dono do sebo me convidou para tomar uma cerveja enquanto ele procurava o livro que eu pedi... Mas esse causo eu conto em outra hora.

Hoje, lojas virtuais como as americanas e o submarino fazem promoções com títulos novos a R$ 10,00 e tem para todos os gostos: literatura nacional, estrangeira, livro espírita, de auto-ajuda, etc. Mas se a sua desculpa é grana, afinal o mundo está em crise e infelizmente as pessoas começam a cortar os gastos nas áreas de lazer e cultura, aqui está uma dica imperdível para ler sem gastar seu rico dinheirinho.

O site Cultvox traz downloads de e-livros grátis, também tem o Livros online e last but not least o tradicional Domínio Público. Agora se o seu perfil é pegar o livro, tatear as páginas e andar com ele debaixo do braço, prepare-se para renovar sua biblioteca pessoal, pois neste domingo, 17 de maio, acontece a Feira de Troca de Livros e Gibis, da Secretaria Municipal de Cultura, no Parque do Ibirapuera, das 10h às 15h.

Lá estarão à disposição diversas mesas classificadas em assuntos, que funcionam como um ponto de encontro para os adeptos de um gênero literário específico. Sem mexer nas suas economias, você leva aquele livro que já leu e troca com os demais freqüentadores. Mas tem um porém, as obras não devem ser didáticos e têm que estar em bom estado de conservação.

Quem perder essa chance, pode comparecer nas outras edições: no dia 7 de julho no parque do Carmo, na região leste; dia 2 de agosto, no parque do Piqueri, na região oeste; dia 13 de setembro, no parque da Luz, na região central; dia 4 de outubro, no parque Cidade de Toronto, na região norte; e dia 8 de novembro, no parque Santo Dias, no Capão Redondo, região sul. Também vale você iniciar a troca agora em maio e seguir trocando até novembro, que tal?

E para quem pensa que brasileiro é preguiçoso e não gosta de ler, eu deixo o link desta coluna do Nelson Motta, no Jornal da Globo, na qual ele diz que o livro 1808, do Laurentino Gomes, vendeu mais do que os CDs da Ivete Sangalo. Viram o paradoxo? Um livro de história vendeu mais do que um CD de axé, em pleno País do Carnaval. E viva a literatura!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Neo-realismo

Na última reunião do Comtatos, a Déia me perguntou se eu já tinha visto Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica (1948), que ela acha um filme lindo. Sim, já vi e tenho aqui esse filme, que é um marco do neo-realismo italiano e uma história comovente. Gancho perfeito para falar desse movimento que subverteu o foco narrativo e estético do cinema italiano, influenciando cineastas do mundo inteiro.

Ainda que desde 1914 Nino Martoglio, com seu filme Perditi nel Buio, já lançava as características do neo-realismo, o que se considera como obra inaugural desse importante movimento do cinema italiano é Roma, Cidade Aberta, de Roberto Rosselini, lançado em 1945. Separando Perditi nel Buio de Roma, Cidade Aberta estão mais de 30 anos, duas grandes guerras mundiais e o fascismo italiano, consolidado na figura de Mussolini. É o fascismo e a guerra que explica o vácuo entre uma obra e outra. Pois a não continuidade da estética inaugurada por Martoglio se deve a ascensão fascista e sua imposição de um cinema alienante, com épicos grandiosos ou comédias e dramas sem qualquer ligação com a realidade. Por outro lado, o ressurgimento de um cinema naturalista é conseqüência direta da guerra, como se verá a diante.

Com o fim da II Guerra Mundial a Itália devastada lança um olhar sobre si mesma e se vê alquebrada. O que está em ruínas não são apenas seus edifícios, mas também seu espírito. O neo-realismo é produto dessa constatação pós-guerra. Uma visão que, muito além da crítica ou do questionamento, se pauta pela explicitação da realidade.

São filmes a céu aberto, quase documentais, com improvisos do elenco e improvisos técnicos. Esse novo cinema apresenta o homem comum, do povo e os problemas do cotidiano como a fome, o desemprego, as dificuldades da vida. É um cinema que explora a dimensão do ser humano frente a uma realidade social e política adversa, frente à vida e suas pequenezas grandiosas, como comer ou conseguir trabalho. A câmera, a luz e o olhar são documentais, assim como muitos personagens, que interpretam a si mesmos. E é dentro dessa realidade sem rodeios ou maquiagens que se dimensiona o humano, em sua grandeza e em sua pequeneza, quando a força é sua vontade e quando a fraqueza é seu desespero.

Nesse início, o cinema neo-realista italiano é também um reflexo quase metalingüístico, onde a precariedade da vida mostrada na tela é sintomática na precariedade da realização do filme. Assim, a escassez de recursos se reflete na projeção e no que é projetado. Como em Roma, Cidade Aberta, em que Rosselini filmou com rolos de filmes de qualidades diferentes, que nota na irregularidade fotográfica do filme, ou como em Ladrões de Bicicleta, cuja precariedade técnica é visível. Mas essa precariedade em nada diminui a dimensão da obra e retrato que ela faz de um tempo e do espírito de um tempo.

Contudo, o cinema neo-realista, como característica do povo italiano, não se entrega ao sombrio, pois é um movimento que também reflete a esperança no recomeço. Diferente, por exemplo, do expressionismo alemão, que após a derrota na Primeira Grande Guerra, surgiu recheado de um profundo lúgubre pessimismo, mas que também que gerou obras memoráveis como O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, e Nosferatu, de Friedrich W. Murnau.

Roma, Cidade Aberta, marco inicial do movimento, ao contrário do que se pode imaginar, não foi um sucesso de público. As pessoas, com a vocação natural das massas ignorantes para a alienação e o escapismo entorpecente, simplesmente não queriam ir ao cinema para verem sua miséria refletida na tela. Foram os intelectuais que perceberam a grandeza daquele cinema que surgia, sua estética e dimensão, e o elevaram á condição de arte e de vanguarda. Transformado em escola, o neo-realismo influenciou diversos diretores pelo mundo, como Nelson Pereira do Santos, que aqui no Brasil realizou, dentro dos mesmos cânones, um de seus grandes filmes: Rio 40 Graus.

Muitos filmes e diretores fundamentaram e deram grandiosidade a esse movimento estético, mas são três nomes os pilares desse cinema: Roberto Rosselini, Vitório De Sica e Luchino Visconti.

Rosselini realizou, além de Roma, Cidade Aberta, Paisá (1946) e Germânia, Anno Zero (1947); em 1948 Visconti realiza La Terra Trema e De Sica define em absoluto o espírito do neo-realismo com sua obra-prima Ladrões de Bicicleta (1948), e também realiza, na década seguinte, seu magistral Umberto D., de 1952.

Já nos anos 50, com a reconstrução da Europa e a recuperação econômica financiada pelo plano Marshal, o neo-realismo, como expressão da realidade, também teve de mudar, e seus principais diretores - mesmo sob protestos de críticos e idealistas que queriam a permanência do reflexo de cunho social-proletário - passaram a trazer para a tela questões existenciais e metafísicas.

Portanto, é à partir de um desdobramento natural do neo-realismo que surgem diretores e obras-primas do cinema italiano, que iriam estimular e influenciar gerações futuras de cinéfilos e cineastas em todo o mundo. É nessa esteira que surgem gênios como Federico Fellini, Michelangelo Antonioni e Píer Paolo Passolini.

Para encerrar, reafirmo o que disse o crítico Luiz Carlos Merten sobre esse importante movimento e sua herança:

“Nesse processo, a herança do neo-realismo seria fundamental, mostrando que o cinema não necessita de recursos hollywoodianos para se firmar. Astros, estrelas, malabarismos técnicos. Tudo isso pode servir a um projeto hegemônico, industrial, de cinema, como é o de Hollywood. Mas se o compromisso era com a identidade humana e social de cada país, o neo-realismo revelou-se uma fonte inesgotável de inspiração.” - Cinema – Entre a realidade e o artifício, Ed. Artes e Ofícios; pag. 85.

Dica de Palestra sobre Fotografia

Se você está em São Paulo e se interessa por fotografia, a dica é muito enriquecedora. Trata-se de uma palestra com um dos fotógrafos da Magnum, a mais importante agência de fotografia do mundo. Pra você ter uma idéia ela foi fundada por Robert Capa, Henri Cartier-Bresson, George Rodger e David "Chim" Seymour, mestres da fotografia. Cartier-Bresson é aquele do momento decisivo, sabe? não? então pode ser uma chance de conhecer o trabalho da Magnum.

A palestra será no MIS - Museu da Imagem e do Som - as 19:30h de hoje e terá como palestrante Martin Parr, e sua palestra será: Think of England.

>>> GRATUITO <<<

Quer saber mais sobre isso clique AQUI.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Jogado aos seus pés eu sou mesmo...

Vivemos na era do muito, e quando digo muito falo em todos os sentidos. Quando é pra mais é muito mais e quando pra menos é muito menos. Olhe a sua volta. Reflita. Falta muita coisa pra você? Uns dirão muita, outros dirão nada.

O consumismo exagerado mostra como podemos ser fúteis e desvalorizar o que temos de maneira tão imediata. Quer ver? A arte de beber passou do apreciar para o encharcar, e o que pudemos notar na maior manifestação de cultura da cidade de São Paulo foi a maior manifestação de falta de educação. Pessoas insuportavelmente bêbadas e fazendo suas necessidades no meio da via pública com banheiros públicos a 50 metros de distância, sujando as ruas e calçadas como se vivessemos em meio a uma grande lixeira. Isso porque a sociedade reclama aos 4 ventos que não tem acesso a cultura, e quando a tem sai às ruas para beber. Então a frase correta seria: a sociedade não tem acesso a bebida.

Passamos por tempos de revolução, é verdade, e muita coisa vem sendo questionada. Várias mudanças estão acontecendo ao mesmo tempo e o exagero é o fruto de tudo isso. Um exemplo de que os excessos aparecem depois dos questionamentos é a internet. No princípio houve muitos questionamentos a respeito desta ferramenta e o que se via eram sites e mais sites de pornografia pipocando em meio a centenas de spams com vírus infectando os computadores de todo o mundo. E você vai dizer: mudou muita coisa? Mudou e muito. A segurança dos softwares aumentou drasticamente, a ferramenta que era usada apenas como envio de informação, passou a ser divulgação de marketing e publicidade, notícias, cultura e hoje é um dos meios de comunicação mais importantes.

As dúvidas levam a discussões e as discussões levam aos excessos. Como uma mulher pode passar por um novo posicionamento global se não se comportar como um homem? E é o que tenho visto nos últimos tempos. Mais e mais mulheres igualando suas condições numa sociedade. Além do novo comportamento feminino nunca vimos tantas mulheres assumindo o comando como agora e a sociedade nunca viu tantos homens tentando se adequar a uma realidade como agora.

Outro exemplo desses questionamentos, mas nesse caso parece que temos muito ainda que questionar é: a maior afronta de viver no Brasil é ver os nossos deputados e senadores usando o dinheiro público para viajar, passear com a família e milhares de brasileiros morrendo de fome. Essa é apenas uma das situações em que vemos os nossos governantes em meio a corrupção. Quem governa deveria ser o espelho para a sociedade. O exemplo a ser seguido. E onde está o exagero nisso tudo? esta na omissão do povo em nada fazer para mudar isso, excesso de conformismo. Mas não vamos entrar no mérito de política porque isso levaria a minha total e plena indignação. Mas fica o vídeo abaixo pra refletir.



Espero que seja exagero da minha parte, mas está na hora dessa passagem de consciência chegar a uma conclusão, ou será muito complicado viver em sociedade.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sala dos Alunos

O que você está fazendo as 19:00h? Pode ser qualquer dia. Se você quiser ouvir boa música eu sugiro sintonizar o seu rádio na Eldorado FM.

O programa é a Sala dos Professores e como o próprio nome diz trata-se de uma aula de música. Apresentado por Daniel Daibem, um estudioso de música, formado em rádio e tv pela FAAP, já trabalhou na 89fm e passou pela Brasil 2000, hoje na Eldorado apresenta de forma bastante didática e descontraída como ouvir Jazz, Blues e outros ritmos que talvez não nos atentamos da forma correta de "realmente ouvir".

Algo curioso que ele sempre ressalta em seu programa é a forma de ver a música como uma conversa, um bate-papo entre todos os músicos através de seus instrumentos. Além disso, o programa conta com algumas palhinhas do próprio Daibem no estúdio, sem falar nas vocalizações muito bem colocadas por ele. A facilidade de lidar com a música e explicá-la faz com que ele realmente se torne um professor, daqueles de cursinho que você nunca mais esquece a aula.

Eu já acompanho o programa dele faz um certo tempo, porém para minha surpresa pude vê-lo tocar ao vivo com seu trio de órgão Hammond na Virada Cultural que aconteceu entre os dias 02 e 03 de maio. Em que palco? Na rua Conselheiro Crispiniano (a rua dos fotógrafos, meu reduto, e por ironia não levei minha camerinha como diria seu Lili).

O trio formado por Daniel Daibem na Guitarra, Daniel Latorre no Órgão Hammond e Vitor Cabral na Bateria fez bonito na virada, mas teve um problema: foi muito pouco, por isso eu aproveitei para fazer um pequeno vídeo do show e você pode acompanhar um breve momento do show e além disso ouvir boa música.



O diferencial deste trio de Jazz é o Órgão Hammond, um intrumento criado por Laurens Hammond em 1934 com a intenção de levar uma alternativa para as igrejas que usavam aqueles órgãos de tubos enormes e caros. Mas foi Jimmy Smith, em 1950 que levou esse instrumento para Jazz. Tem um som peculiar e inconfundível o que traz um toque especial à música.

Vocês podem notar no vídeo, primeiro o charme dos cabos na frente, mas era a única forma de não ficar tremido, além disso o controle total da música e de grupo. Em algumas passagens era muito interessante ver o entrosamento entre eles.

Vale a pena acompanhar o Hammond Trio e todos os dias às 19:00 na Eldorado a Sala dos Professores.