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sexta-feira, 28 de março de 2008

Learn to fly

Agora são 18h30 e o expediente acabou. Aqui na Paulista, coração da cidade de São Paulo, o trânsito está infernal, como sempre. Já virou rotina, nem tenho esperanças, tão pouco ânimo, de descer do alto de um dos tantos prédios e arriscar-me a tomar o caminho do lar.

Tanta gente, tanta buzina, carro, ônibus, moto. Tanta gente querendo encontrar um cantinho para avançar alguns metros. Parece um pouco inútil frente a tanto desencontro de caminhos, num excesso de vias tão discordantes.

Tem que haver outra opção... Na janela, o horizonte crepuscular é convidativo. Oferece-me a mão em um salto solto pelas nuvens e ventos, em piruetas pelo ar. Voar me aventurando em correntes de ar, túneis de vento, sinais de fumaça, faixas de aeronaves, vias de estrelas. Quem sabe até não sinalizo e descolo uma carona com um avião e... Terra, Terra, planeta Terra chamando. Toca o telefone. Eu ainda nem saí da redação.

Para voar não é preciso ter asas (ou tomar um Red Bull). Sentir-se segura nos ares da vida, sem medos das mudanças bruscas de temperatura, das frentes frias que virão sem prévio aviso, ou dos tufões e temporais de verão que chegam para lavar a poluição do peito e as lágrimas dos olhos.

Pego emprestada uma frase de um cara que está aqui, por essas bandas, fazendo um show pra pouca gente, mas que tem muito a falar pra todo mundo: “Em um mundo cheio de gente, somente algumas querem voar. Isso não é doido? (...)”.

Realmente, Seal, mas como você canta aos quatro cantos, “Nós nunca vamos sobreviver, ao menos que fiquemos um pouco loucos...”.

E o momento mais propício para tal libertação é exatamente hoje, agora, já. Sexta-feira pós expediente. Feche os olhos e atire-se.

Sinta o ar redentor de uma sexta à noite, eu sei (que você sabe) que agora tem aquela sensação estranha no ar, disfarçada num sorriso maroto, um impulso feito de alegria febril. Um pensamento que o convence de ter o mundo nas mãos.

Às 18h das sexta-feira a mascara cai, o pano desce e o tetro acaba, hora de fazer o espetáculo nos bastidores, unless...We get a little crazy....

O que é real?

Sabe aqueles dias em que nada dá certo, e sua vida se transforma em uma sucessão de crises pessoais, com dúvidas inexplicáveis? Enquanto esse fenômeno é pontual, tudo bem. Você leva numa boa e encara como se fosse apenas uma crise passageira, ou uma confluência desarmônica do seu mapa astral. Mas, em algum momento, percebe que esse fenômeno começa a se repetir indefinidamente, de tal maneira que as recaídas começam a parecer simplesmente uma armação do destino, uma travessura do Todo-Poderoso, que aproveitou uma folguinha no firmamento para espezinhar aquele verme insignificante que está simplesmente tocando sua vida.
O resultado pode ser tal qual uma falha na Matrix, a vida perde sua razão. O chão das dúvidas se abre a seus pés e seus preciosos axiomas e preconceitos voam como farinha no Ceará. E que fazer? Sem respostas para suprir sua ignorância da causa dos tormentos, tenta-se de tudo: de ópio a Jesus, Tantra, Paulo Coelho e Domec.
Balela. A resposta pode estar em uma singela canção.

Conto do Sábio Chinês
By Raulzito

Era uma vez um sábio chinês
Que um dia sonhou que era uma borboleta,
Voando nos campos,
Pousando nas flores,
Vivendo assim um lindo sonho.

Até que um dia acordou,
E pro resto da vida uma dúvida lhe acompanhou.

Se ele era um sábio chinês
Que sonhou que era uma borboleta,
Ou se era uma borboleta sonhando que era um sábio chinês.

Dicas quentes

Companheiros e companheiras...

Para aqueles que ficarão em São paulo neste final de semana, como eu que tenho afazeres bloguísticos e não-bloguísticos, ficam as sugestões do Comtatos para vocês.

Sarau Astronômico

Sim, é um sarau em plena São Paulo. Em meio a luz das estrelas, há telescópios para se admirar o céu, ao som de chorinho ao vivo, leitura de poesias e performaces.
O conjunto Choro do Leblon, será o responsável pela parte musical e tocará chorinhos clássicos como Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha.
A possibilidade de você esbarrar com algum colaborador do blog é imensa.
Agradecimentos a Suelen pela dica e ao B-Coolt pela divulgação.

Onde: CCSP - Centro Cultural São Paulo - Rua Vergueiro, 1000.
Quando: Hoje - 20h
Quanto: na faixa

Cinema

A dica da sétima arte é um cinema sem paredes. Isso mesmo, sem paredes.

O filme será exibido no topo de um prédio na Avenida Angélica e o filme é o Encurralados com Pierce Brosnan. Parece ser uma boa pedida pela vista. Corra, pois são apenas 150 lugares.

Serviço:

Onde: Edifício New England - Avenida Angélica, 2346
Quando: Hoje(28) e Amanhã(29) - 21h
Quanto: R$ 35 - www.ingressofacil.com.br

Viu? A paulicéia desvairada oferece ótimas opções de entretenimento cultural de qualidade.

Porém, caso você não seja fã dessas dicas, não tem problema, a Augusta fica aberta 24horas por dia.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Falando pelos cotovelos

Estou aqui escrevendo, pra estar te lembrando que é possível estar escrevendo sem o alguns vícios que estão fazendo dos nossos ouvidos grandes penicos.

Realmente é irritante. Não há quem suporte escutar a ladainha de um operador de telemarketing durante toda a ligação. É a gente vai estar te ligando pra lá, pra estar confirmando pra cá, e um diabo de a nível de, que mata só de sair da boca. Foi então que eu descobri, esses nobres funcionários escravos do capitalismo ganham seu rico dinheirinho por cotas, logo essa cota é de gerundismo. Só pode ser.

Na verdade o português coloquial é lindo, quando nos comunicamos sem os vícios de linguagem, mesmo quando erramos algumas colocações. Agora abrasileirar é que faz toda a diferença numa conversa, o meio financeiro tem linguajar próprio e me coloca a pensar se realmente é necessário todo aquele florear. Vamos supor que dois funcionários do setor financeiro estejam conversando:

- É como eu vinha frizando, o spread da operação está ligado a quanto do market share você está disposto a ganhar.
- Eu como Relationship Management tenho know-how pra dizer que você tem razão.

Agora com a tecla SAP:

- É como eu tava falando, o lucro que você tem numa venda está ligado a quanto do mercado você quer ganhar.
- Eu como gerente de relacionamento tenho conhecimento de causa pra confirmar o que você disse.

Um monte de groselhas que te empurram goela a baixo e você que procure no dicionário. É lógico que cada setor tem sua linguagem própria. Na visão mais focada possível podemos ver dois namorados conversando:

- Nhonhoco! Coça as minhas costas...
- O minha picoruxa, coço sim!


Temos ainda alguns termos que cairam no coisismo, explico: uma palavra que substitui "coisa" em uma frase só para não dizer "coisa". Por exemplo a palavra processo. Imaginem que uma pessoa vai até um posto de atendimento e pergunta sobre alguma coisa, logo vem a resposta.

- Não tenho informação sobre esse processo.

O "Processo" deixa o texto mais garboso, mais elegante. Mas não quer dizer coisa alguma, ou melhor quer dizer alguma coisa.

A linguagem transcende ao som e o comportamento do corpo demonstra muitas coisas, como se existe interesse no que está sendo dito (figura ao lado) ou se uma pessoa está à vontade numa determinada situação. O corpo fala é uma boa leitura para quem quer saber um pouco mais sobre o assunto.

O visual também é um método de comunicação. O vermelho e o amarelo do Mc Donald´s não foram escolhidos por acaso e existem estudos que dão todo um sentido para o assunto.

O fato é que, a comunicação tem que existir e é ponto fundamental para que exista convivência, mas bem que a gente podia estar melhorando, para estar tornando mais agradável nossos comtatos no processo diário enquanto relacionamento humano a nível de pessoas que somos.


*** Referência ***
O Corpo Fala
Pierre Weil e Roland Tompakow
Editora: Vozes
Ano: 2001
Edição: 52
Número de páginas: 288

Nota importante

Não dormi essa noite, passei muito mal. Só espero que não seja dengue, pois alguns sintomas se encaixam no quadro.

Abs

terça-feira, 25 de março de 2008

Dengue no Rio de Janeiro



Quando viajei para o carnaval no Rio de Janeiro, pensei em tomar a vacina contra a febre amarela. Mas o que não me faltou foram pessoas dizendo que era bobagem, exagero. Os jornais noticiavam que não havia epidemia, o que exista eram casos isolados e tudo estava sobre controle.

Pois bem, hoje cheguei mais cedo do trabalho e assistindo o Jornal Nacional fiquei perplexa. Os casos de morte registrados no estado do Rio pela dengue não são poucos. E pior, muita criança carioca morreu desse mal.

Coincidentemente a febre amarela também é uma doença transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti.

Lendo alguns jornais sobre o assunto me deparo com o seguinte parágrafo que saiu hoje na Folha on line "Em tese, era de se esperar que não houvesse nenhum caso de morte", disse o médico clínico e infectologista da Fiocruz Antonio Sérgio da Fonseca. "Havia um despreparo completo da rede de saúde do Rio".

Aí eu me pego pensando: O que é que estão fazendo as autoridades responsáveis pela saúde pública, onde está o dinheiro dos nossos impostos, cadê o comprometimento com o povo brasileiro?

Não queria terminar o texto assim, mas quantas epidemias serão necessárias até que alguém olhe para saúde pública?

Sem mais,

segunda-feira, 24 de março de 2008

Para começar bem a semana

Abaixo está meu email à SPTrans, auto-explicativo, sobre o ocorrido hoje. Tem uma hora que cansa!

Bom dia!
Na verdade o dia seria melhor se a empresa que deveria fiscalizar e controlar a quantidade de ônibus e tráfego fizesse seu papel. É uma vergonha ter que esperar durante 30 minutos por um ônibus que leva até um terminal (o que deveria ser crucial). O mais interessante da história é que após meia hora no bendito ponto passaram nem um nem dois e sim três.
Agora vamos usar a cabeça: 30 minutos dividido por três ônibus são dez minutos para cada um, certo? errado. Errado quando a empresa que deveria fiscalizar não faz esse papel, errado quando o motorista demora pra poder esperar mais para sua lotação encher e ele ganhar mais, errado quando o cobrador fica sentado no assento reservado para deficientes enquanto todos aguardam de pé.
Seria muito justo que as pessoas que deveriam acompanhar os itinerários e suas demandas passassem a utilizar o transporte público. O mais engraçado é que tem gente que ainda fala que o trânsito é culpa das pessoas que não tem consciência e usam seus carros para irem ao trabalho, na verdade o que faz a diferença é a falta de profissionalismo e a falta de respeito com que é tratado esse assunto. Eu gostaria imensamente que isso não voltasse a acontecer, e que se existe alguém lendo isso do outro lado que tome a devida providência, afinal de contas, eu estou tão desacreditado que acho que nem ler esse email seriam capaz. Provem-me que estou errado, pois até agora eu não errei em uma vírgula.
Linha 8199-10 Cem. Cachoeirinha (lotação)
Ônibus número 16100.
No aguardo,

Ronaldo Junior

domingo, 23 de março de 2008

Um pouco de tudo que vi ...

Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar...

Para quem sentiu minha ausência nesses últimos dias os versos de Cartola e Candeia explicam. Estou por ai a procurar coisas novas.

A última que encontrei foi um trabalho de um pessoal bem bacana que ousa a fazer o que pouca gente tem coragem. A idéia surgiu entre amigos, assim como este Blog, e tem dado frutos bem bacanas.

A receita está na descrição do site chamado Música de Bolso. Lá eles unem musica e cinema com canções gravadas em locais inusitados. Você já imaginou Arnaldo Antunes tocando um violão dentro de um buraco? E a Mart’nália tocando e andando pelos corredores de um de hotel? Pois bem, eles fizeram isso.

A idéia é ótima e o trabalho muito criativo.

Esse é só um dos meus achados....

Antecipando as novas mudanças de COMTATOS, toda terça feira passo a relatar novas notícias desse mundo sem fim.

Até mais,

sábado, 22 de março de 2008

Antes de Assistir

Qualquer um ficaria chateado, sem vontade de cantar uma bela canção, mas não os personagens de Antes de Partir. Filme que conta com a presença ilustre de Jack Nicholson e Morgan Freeman.

Esta boa película começa quando Edward Cole (Jack Nicholson) é internado as pressas e descobre que tem câncer, passando a dividir um quarto com Carter Chambers (Morgan Freeman). A grande ironia do filme é que Edward é um milionário administrador de hospitais e passa a repartir o leito pois segue uma condição prioritária em cada negociação por um novo empreendimento: "dois leitos por quarto, nunca menos".

Ao descobrirem que lhes restam poucos meses de vida resolvem aproveitar a vida seguindo uma lista que Carter havia aprendido anos atrás, que fazia referência a desejos que você gostaria de realizar durante a sua vida.

O filme segue muito bem, e tem fascinantes atuações. O sentimentalismo que poderia tomar conta do todo é bastante abrandada pelo sarcasmo do personagem de Jack.

Enquanto assistia muita coisa passou pela minha cabeça, como por exemplo: se realmente é necessário dinheiro para ter a felicidade por perto; se é possível viver sem amizade; se é possível mostrar a dignidade de uma vida pelo superficialismo que transmitimos.
E essa é a grande sacada do filme, falar sobre um assunto polêmico de uma forma bem humorada, contextualizar com a amizade de duas pessoas que numa outra situação nunca se conheceriam (um homem branco muito rico e um negro pobre). A suavidade dessa amizade é contornada pelas alfinetas desferidas um pelo outro. Ao final de uma jornada os dois colhem frutos e se tornam pessoas melhores que antes, como o que se espera da convivência com qualquer amigo.

Na semana passada fui a uma palestra que falava sobre desenvolver seus sentimentos e vivê-los com inteligência, e algo que estava em ascensão em todo o discurso é que se você tem a oportunidade de fazer alguma coisa que te faça sentir bem, então faça!

Essa filosofia alinhava bem com o enredo do filme, afinal de contas, vale mais a pena errar do que se arrepender por não ter tentado, pode ser clichê mas tem funcionado durante muitos anos.

Antes de Partir
(The Bucket List)
EUA, 2007 - 97 min
Drama / Comédia
Direção:Rob Reiner
Roteiro:Justin Zackham
Elenco:Jack Nicholson, Morgan Freeman, Sean Hayes, Beverly Todd, Rob Morrow

quarta-feira, 19 de março de 2008

Ambientalista, eu?

Não importa se você quer um Honda Civic híbrido, um Celta Flex ou até um VW Fox somente a Gasolina.

Para os caras do vídeo abaixo, qualquer automóvel é um poluidor, e eles adoram.

E me fizeram pensar, não é que é verdade? Será que não estamos pagando de idiotas ao entrar nessa história de auto-sustentável. Nas ladainhas de compre um carro a alcool que ele polui menos que o carro a gasolina. Ué, mas se ele polui então também faz mal, concorda cara pálida?

Veja e reflita...

domingo, 16 de março de 2008

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer pelos muitos comtatos, cada dia que passa somos mais vistos. E gostaríamos, ainda, de deixar um abraço especial para nossos visitantes internacionais: Alemanha, Reino Unido, Israel, Estados Unidos.

Isso mostra que os comtatos não tem fronteiras!




Maria Rita - Encontros e Despedidas

Milton Nascimento e Fernando Brant


Mande notícias do mundo de lá
diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
quando quero


Todos os dias é um vai e vem
a vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar


E assim chegar e partir
são só dois lados
da mesma viagem
O trem que chega
é o mesmo trem da partida
A hora do encontro
é também despedida
A plataforma dessa estação
é a vida desse meu lugar
é a vida desse meu lugar
é a vida...

quinta-feira, 13 de março de 2008

Pianinhos, pianinhos...

Os práticos que me perdoem, mas o dia está perfeito para divagações. Essa chuva interminável – e que a essa altura deve ter cooperado para São Paulo bater outro recorde de congestionamento – cria naturalmente uma atmosfera cinzenta e melancólica, barra a luz do sol e produz um barulho de pista molhada em corrida de Fórmula 1 que torna inevitável falar sobre a existência humana e a busca por uma vida mais tranquila.

Uma das formas de alcançar essa tranquilidade é através dos rituais de purificação. Desde tempos imemoriáveis os homens comungam regularmente tais práticas, que têm como finalidade o engrandecimento espiritual. Entre os índios da América do Norte, e mesmo da América do Sul, havia ritos que celebravam deuses, e amiúde terminavam em curiosos banquetes, nos quais eram servidos – todos o sabem – carne humana. Na antiguidade, romanos e gregos davam vazão a seus recônditos instintos em celebrações regulares de orgias e bacanais. Com o advento do cristianismo como religião oficial da Idade Média, foram se formando novas práticas purificadoras, que marcam o encerramento de um ciclo e início d'outro. Entre os exemplos que sobreviveram estão o Natal e o Reveillón. Em diferentes regiões e épocas, há festas particulares, que não vêm ao caso enumerar. Porém, em todos esses ritos, o resultado buscado é alguma espécie de engrandecimento. Pessoal, comunal ou social.

Proveniente do latim carnevare, o carnaval é, por definição arbitrária de sei-lá-quem, a autêntica festa brasileira – algum dia discutiremos o que significa ser brasileiro – e um perfeito exemplo de ritual de passagem. Orgiástico por excelência, é o momento em que várias convenções sociais são pervertidas. Durante quatro dias e quatro noites, pouco importam os conceitos de certo e errado, se deus está debaixo da mesa e o diabo, atrás do armário. A ordem é libertar-se de pudores, medos e sentir-se invadido e dominado por desejos e impulsos reprimidos durante dias, semanas e meses a fio. Tudo é burlado e misturado num êxtase de cores, cheiros, gostos e sensações. Maravilhosos desfiles cheios de pompa têm lugar em um país (com letra minúscula mesmo) marcado de maneira indelével pela pobreza da maioria da população. Sexo, drogas e suor tomam o lugar de puritanismos, monogamia e sanitarismo. Finda a festa, costuma-se ouvir pelas ruas na quarta-feira subsequente: “agora começa o ano”. Todos purificados. E pianinhos.

Graças a Alá, os roqueiros que detestam carnaval também têm sua chance orgiástica: os shows que vez ou outra acometem as grandes capitais brasileiras. Pois nesses momentos, os maltrapilhos cabeludos (e os calvos engravatados também) têm a chance de exorcizar seus demônios. Holofotes e luzes coloridas, sons distorcidos, palavras cortantes, discursos contundentes, decibéis de envergadura cavalar são arremessados contra a platéia que se goza, se deleita, respondendo com toda a força de seus pulmões e prejuízo de cordas vocais. Grita, pula e xinga. Com vontade. Um verdadeiro clube da luta orgasmático. Cotoveladas, socos e pontapés são manifestações genuínas de cada ser humano. Não existe ser imune à vontade de esmurrar alguém na vida (Para a felicidade de todos e o bem geral da nação, esperamos que tais desejos tenham sido devidadmente reprimidos). No momento do show, entretanto, a atmosfera de raiva, o sentido de inconformidade com as regras vigentes interrompem seu ciclo repressor levado a cabo durante determinado tempo, para terem vez e voz em lugar lugar sacramentado pela ocasião. Ali é o palco para que essas pessoas (subproduto das contradições sociais, em minha opinião) tenham sua oportunidade de expelir as sensações negativas acumuladas dentro de cada um. Naquele momento, as regras sociais, de comportamento e postura, são abolidas em prol do orgasmo instintivo. Não é diferente dos rituais orgiásticos em sua essência, apesar de o ser na forma. Todos saem dali com o espírito engrandecido, com o espírito purificado. Terminada a celebração, todos – ou a maioria – se põem a caminhar para casa, continuar suas vidas. Voltar ao sistema que os condiciona diariamente. Violência não é necessária, nem desejada, por isso novamente reprimida. A dose que cabe a cada um já foi liberada durante o show, acompanhando a música.

Nas semanas que se seguem, eis que os outrora enfurecidos roqueiros demonstram uma incompreensível capacidade de amar tudo e todos, eleger suas musas e cores inspiradoras. Respiram aliviados o odor úmido e suave de um jardim de damas da noite. Pianinhos, pianinhos.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Novo Membro

É com muito orgulho que apresentamos nosso novo integrante, Danilo Gallucci. Nosso Amigo, ótimo escritor, historiador e um grande fã do bom e velho Rock´n´Roll.
Seja muito Bem-vindo! Esperamos que todos apreciem seus bons textos!

terça-feira, 11 de março de 2008

Para pensar....

Um post bem rápido, apenas para um momento de auto-reflexão.

PARA REFLETIR
Quando não se pode falar bem de uma pessoa, o melhor mesmo é que não se diga nada, porque a atenção que dedicamos a observar ou criticar os defeitos alheios deve ser dada aos nossos próprios defeitos, tentando corrigi-los."

Tereza Guerra

Veja Run e fique Crazy


Quando ouvi pela primeira vez, fiquei hipnotizado. Uma mistureba de Rap, POP e Soul, uma voz inconfundível e a Batida Perfeita, que não é a do D2.
A banda foi formada em 2003, a dupla composta por Danger Mouse e Cee Lo Green despontou para o sucesso com o lançamento em 2006 do cd St. Elsewhere. Daí nasceu Crazy, como diz Nathalya, "a música do berinbau eletrônico", música de maior sucesso em 2006, ficando com o 2º lugar da Billboard.
O som cheio de elementos pegou, daí vieram outras como Who Cares? e Smiley Faces, que por sinal escuto agora enquanto escrevo.
O fato é que a banda tem um ponto forte: seus clipes. Geralmente são bastante artísticos, em Crazy o vídeo remete a uma daquelas brincadeiras de colocar tinta plástica no centro de um papel dobrá-lo e depois abrí-lo para descobrir qual figura foi formada.
Continuando nessa vertente tivemos um novo vídeo-clipe bastante interessante, que tem em seu conteúdo cenas com luzes estroboscópicas, que teoricamente podem causar ataques em telespectadores que sofrem de epilepsia, além ataque naqueles que adoram fazer alvoroço.
A MTV Norte Americana solicitou que uma nova versão fosse feita sem essas imagens. Mas tem muita gente passando ainda o vídeo reprovado em um exame chamado "Harding test", criado para detectar efeitos do tipo em programas de TV.
Aqui você também pode conferir. Em mim só causou curiosidade para o próximo CD que tem lançamento programado para 8 de Abril

segunda-feira, 10 de março de 2008

Folha em branco




Lá esta ela, me corroendo o tempo todo
Muitas vezes como as marcas d’água as linhas insistem em aparecer
Sobre elas muitas escrituras

O tempo que não pára mostra o quanto devo me apressar
Aquelas tão brancas folhas já incomodam a minha ordem
Talvez devesse parar
Mas que adiantaria, nada iria mudar, talvez atrasasse ainda mais

Penso, olho, enfrento
Que mal poderia fazer?
A vontade é tanta...

Ilustre Ação

Entre mutantes e meta-humanos, mocinhos e bandidos, milhares de pessoas visitaram a 14º Fest Comix que aconteceu entre 07, 08 e 09 de março. Muita coisa boa fazia parte do cardápio, quadrinhos com preços em baixa, coleções de réplicas, filmes, entre outros. Eram mais de 200 mil revistas em oferta no maior evento brasileiro de quadrinhos e mangás.

Fãs de quadrinhos, fanzines, miniaturas e adeptos da cultura urbana tiveram um programa perfeito neste final de semana. Entre os itens você podia encontrar camisetas com ícones da cultura pop, quadrinhos de diversas editoras, lojas de miniaturas, estandes de escolas de ilustração, acessórios como chaveiros, livros que ensinam japonês através de revistas em quadrinhos e até fanzines independentes ambientados na Avenida Paulista (cartão postal localizado na rua de trás da feira).

A produção de quadrinhos nacionais merece destaque. Em um bate-papo com o roteirista de um belo trabalho chamado CÃO, Harriot Jr nos falou sobre a dificuldade para levar o Cão aos céus, ou seja, bancar o trabalho e fazer a própria divulgação até ganhar seu público e vendê-lo junto com a obra para uma editora. Para ele o importante é mostrar o trabalho, bancar uma gráfica, imprimir um fanzine e divulgar os desenhos, as idéias, e assim ganhar espaço no mercado.

O Cão, obra da qual Harriot é roteirista, foi influenciado por filmes como Blade Runner e Duna. A história é ambientada em São Paulo e trata da invasão da cidade por zumbis. Segundo Hervilha, um dos ilustradores da revista, o quadrinho, o Cão, tem fácil identificação com o público, não só pelos desenhos, mas também pela história, que consegue aproximar o leitor devido à localização. Na trama um grupo de ilustradores vende a revista na rua de trás da Fest Comix, a Avenida Paulista, quando são surpreendidos por um ataque de zumbis, fato que deixa claro o uso da metalinguagem.

Ambientar as histórias com cenários que já existentes na mentes dos leitores é um trunfo, pois cria uma identificação logo no começo da história.

O ilustrador Hervilha também comenta sobre as influências para desenvolver a história. Para ele assistir a filmes e ler, no caso obras clássicas da literatura mundial, como Admirável Mundo Novo, ajuda no processo de criação das histórias e no desenvolvimento de repertório.

Aqui o cinema ganha destaque. Para Harriot , o quadrinho é como o cinema, mas sem o recurso de som. Enquanto nas telas os criadores levam dois meses para filmar uma seqüência de ação com efeitos especiais visuais, nos quadrinhos a ilustração pode levar dois dias para ficar pronta. O desenho ainda tem a característica de estimular a imaginação do leitor.

Esse talento de mexer com imaginário é o que diferencia o ilustrador do quadrinista. Não se trata apenas de ter talento com lápis e papel. O quadrinista tem que saber como contar uma história. Harriot indaga, se num primeiro quadro aparece uma pessoa com um punhal e no quadro seguinte tem alguém no chão ensangüentado, quem matou o personagem?

O leitor. O leitor imagina os atos induzidos pelo roteiro. O quadrinista não precisa desenhar todos os gestos de uma ação, ele está contando uma história para alguém que está vendo, junto com ele os fatos.

Provavelmente por isso os quadrinhos nacionais vêm ganhando tantos fãs. No mercado estão disponíveis histórias com personagens que ganham a identificação fácil dos leitores, com características e comportamentos nacionais, conquistando a simpatia dos leitores.

Hoje o mercado dos quadrinhos é bem democrático, com opções de leitura para todos os gostos, e boa parte deles pode ser encontrado na Fest Comics. Entre as obras mais vendidos da feira, a série Sandman lidera, no topo do ranking, seguida da coleção de Os Maiores Super-Heróis do Mundo, do famoso ilustrador Alex Ross. Em terceiro vinha Persépolis da roteirista Marjane Satrapi e depois Watchmen, com o roteiro do talentoso Alan Moore.
Entre as réplicas, segundo o Giovani do estande da Bugigangas, temos duas tendências: Star Wars e Final Fantasy. Tínhamos também opções de Os Simpsons, Carros (Disney), Noiva Cadáver, Super-Heróis Marvel e DC, senhor dos anéis, piratas do caribe e muito mais.

Depois de passear pelas gôndolas e estandes cheguei a conclusão de era a hora de irmos as compras, encontrei uma bela edição de Calvin e Haroldo, os vingadores e a liga da justiça e um pac do Hellblazer. Meu consumismo aflorou.

E Enquanto rondava pelos corredores ia falando com gente, que como eu, estava à procura de diversão em pequenos quadros, cultura nos mais diferentes estilos que faz com que pessoas mantenham o Comtato. FIM!

Texto escrito a 4 mãos Nathalya Buracoff e Ronaldo Junior.
Fotos de Ronaldo Junior

sexta-feira, 7 de março de 2008

Dica cultural

Fim de semana chegando, uns viajam, outros ficam.

Para agradar aqueles que ficam em SP, toda sexta o Comtatos irá separar algumas dicas culturais. Serão filmes, teatros, exposições e até shows. Tudo o que tiver rolando de interessante vocês poderão saber por aqui.

Bom para começar, há um filme muito bom que está um pouco fora do circuito comercial, apesar de ter sido rodado no EUA.

Na Natureza Selvagem é aquele filme que te faz pensar sobre a vida, sobre nossa subversão aos poderes e nossa depêndencia das coisas materiais.

No Filme, um jovem de classe média termina os estudos, doa todo seu dinheiro para uma instituição de caridade e segue para o Alaska de carona sempre em contato direto com a natureza e com a nossa essência como ser humano.

O filme é baseado no livro homônimo de Jon Krakauer.

Serviço: Cine Bombril(Conjunto Nacional) Avenida Paulista 2073, Cerqueira César - SP.
Horários de Exibição: 14h, 18h40 e 21h30. Às terças o filme será exibido apenas às 14h.

Nota do Comtatos(1 a 5): 4

domingo, 2 de março de 2008

Desabafo

Estou lendo Demian, ainda na 87 das 177 do total de páginas . O autor do livro é Hermann Hesse, o cara do Lobo da Estepe, esse mesmo, o livro d’O teatro Mágico, aquela trupe de gente simples e verdadeira que traz poesia a esse mundo às avessas. Este livro nos leva a um mergulho em nós mesmos, nos faz enfrentar os próprios medos, os velhos hábitos e a abraçar nossos ideais e nos orgulharmos do nosso caráter.

É, definitivamente, uma leitura obrigatória nos tempos atuais. Mas não é um livro feito para todos, é somente para raros. Afinal, nem todo mundo gostaria de lê-lo, pois não é um livro proposto a agradar ninguém, nem para agradar a si mesmo.

É uma obra de auto-ajuda, no verdadeiro sentido da palavra. Trata-se de um livro com o qual você questiona a sua postura perante a vida e se pergunta o que, realmente, vale a pena. O que merece os seus esforços com dignidade? Você se pergunta se daqui a algum tempo você vai se sentir orgulhoso de ter sido acomodado, de ter se dedicado, sem paixão, hora a fio em um trabalho do qual você não gosta.

Demian é um livro sincero, feito para os corajosos. Não é para aqueles que querem soluções prontas em pílulas, dessas receitas genéricas que se aplicam à vida de qualquer um. Por isso, nem todos gostariam de lê-lo. Só gostam de ler Demian quem não quer mais mentir a si mesmo, não quer mais fingir, nem interpretar o mesmo personagem insosso no teatro nosso de cada dia.

Em um mundo cheio de cretinos não é qualquer um que deseja deixar de ser um calhorda. Acostuma-se a não ter caráter, a furar fila, a tirar certas vantagens, a ser favorecido com alguns benefícios só porque é mais endinheirado ou mais bonito.

Para um cretino, isso é o segredo de um caminho que o levará ao pote de ouro no final do arco íris. O pote pode ser qualquer beneficio que lhe traga uma vida boa. Hoje em dia é tão natural tirar vantagens para ganhar um emprego melhor, seja sabotando o colega ou dando pro chefe. É tão natural ser um cretino e achar que os outros não têm sentimento, enquanto você engana aos outros e a si mesmo, só interessado no dinheiro e no status.

Desta forma, os fins justificam os meios e os cretinos se esquecem que o mais importante na vida é a beleza da paisagem, é o que você constrói durante o caminho e não o local onde ele termina.
Deus meu, livrai-me de todo o mal e não em deixeis cair em tentação, mas acima de tudo, afasta do meu caminho, com todas as tuas forças, esses malditos cretinos. Amém!