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quarta-feira, 26 de março de 2008

Falando pelos cotovelos

Estou aqui escrevendo, pra estar te lembrando que é possível estar escrevendo sem o alguns vícios que estão fazendo dos nossos ouvidos grandes penicos.

Realmente é irritante. Não há quem suporte escutar a ladainha de um operador de telemarketing durante toda a ligação. É a gente vai estar te ligando pra lá, pra estar confirmando pra cá, e um diabo de a nível de, que mata só de sair da boca. Foi então que eu descobri, esses nobres funcionários escravos do capitalismo ganham seu rico dinheirinho por cotas, logo essa cota é de gerundismo. Só pode ser.

Na verdade o português coloquial é lindo, quando nos comunicamos sem os vícios de linguagem, mesmo quando erramos algumas colocações. Agora abrasileirar é que faz toda a diferença numa conversa, o meio financeiro tem linguajar próprio e me coloca a pensar se realmente é necessário todo aquele florear. Vamos supor que dois funcionários do setor financeiro estejam conversando:

- É como eu vinha frizando, o spread da operação está ligado a quanto do market share você está disposto a ganhar.
- Eu como Relationship Management tenho know-how pra dizer que você tem razão.

Agora com a tecla SAP:

- É como eu tava falando, o lucro que você tem numa venda está ligado a quanto do mercado você quer ganhar.
- Eu como gerente de relacionamento tenho conhecimento de causa pra confirmar o que você disse.

Um monte de groselhas que te empurram goela a baixo e você que procure no dicionário. É lógico que cada setor tem sua linguagem própria. Na visão mais focada possível podemos ver dois namorados conversando:

- Nhonhoco! Coça as minhas costas...
- O minha picoruxa, coço sim!


Temos ainda alguns termos que cairam no coisismo, explico: uma palavra que substitui "coisa" em uma frase só para não dizer "coisa". Por exemplo a palavra processo. Imaginem que uma pessoa vai até um posto de atendimento e pergunta sobre alguma coisa, logo vem a resposta.

- Não tenho informação sobre esse processo.

O "Processo" deixa o texto mais garboso, mais elegante. Mas não quer dizer coisa alguma, ou melhor quer dizer alguma coisa.

A linguagem transcende ao som e o comportamento do corpo demonstra muitas coisas, como se existe interesse no que está sendo dito (figura ao lado) ou se uma pessoa está à vontade numa determinada situação. O corpo fala é uma boa leitura para quem quer saber um pouco mais sobre o assunto.

O visual também é um método de comunicação. O vermelho e o amarelo do Mc Donald´s não foram escolhidos por acaso e existem estudos que dão todo um sentido para o assunto.

O fato é que, a comunicação tem que existir e é ponto fundamental para que exista convivência, mas bem que a gente podia estar melhorando, para estar tornando mais agradável nossos comtatos no processo diário enquanto relacionamento humano a nível de pessoas que somos.


*** Referência ***
O Corpo Fala
Pierre Weil e Roland Tompakow
Editora: Vozes
Ano: 2001
Edição: 52
Número de páginas: 288

4 comentários:

Ricardo Moreira Leite disse...

Eu podia estar roubando, podia estar matando, mas estou aqui para poder estar comentando...

abs

Nathalya Buracoff disse...

Ótimo texto! ;)

Mas o que atrai no Méqui não são as cores e sim os brindes. Com uma coleção de Pucca, de Looney Tunes e de miniaturas das animações da Pixar eu fico totalmente convencida de que uma refeição composta por cheeseburguer, batata frita e refrigerante é um verdadeiro banquete!
Ah, Burguer King com miniaturas do Snoopy também é uma opção de alimentação balanceada. =D
Nham, nham!

Danilo Ribeiro Gallucci disse...

Ah, então é por isso que noiva usa branco (como a Klu-Klux Klan), noivo usa preto (assim como os metaleiros), demônios, putas e comunistas usam vermelho?

Rogério de Moraes disse...

Demônios, Putas, Comunistas e o PT, acrescento.

Na questão do estrangeirismo citado no texto, me lembrei de uma crônica do Max Gehringer sobre o tema e que foi veiculada na coluna que ele tem no Jornal da CBN (por voltas das 07:55, de segunda a sexta). Depois de dar alguns exemplos da estapafurdia que são certos estrangeirismos corporativos e de citar alguns outros que até são razoáveis e aceitáveis, ele terminou sua crônica citando o apresentador do Jornal, o conceituadíssimo jornalista Herodoto Barbeiro. Disse o Max que usar certas expressões pedantes de estrangeirismo são tão úteis quanto chamar o Heródoto Barbeiro de Heródoto Stylist Hair. Enfim, gostei do tema e do post. Abraços.