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domingo, 28 de junho de 2009

Cinquentão em boa forma



A partir do dia 18 de julho, começará o ciclo de comemorações para homenagear os 50 anos da carreira do desenhista Maurício de Sousa, com exposições comemorativas que se estenderão até o ano de 2010.
Veja algumas novidades e comece a se programar:
  • Apresentação de um documentário produzido pelo canal Biography, que será exibido em toda a América Latina a partir do dia 18 de julho.

  • Lançamento do Livro MSP 50 – Maurício de Sousa por 50 artistas brasileiros,que farão traços peculiares para a turma da Mônica, uma singela e merecida homenagem ao maior artista dos quadrinhos brasileiros de todos os tempos. Tal obra será lançada, provavelmente em setembro de 2009 na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

  • * Lançamento do livro Bidu 50 anos para relembrar os 50 anos do Bidu, o primeiro personagem de Maurício de Sousa, que hoje aparece, inclusive, no logotipo da empresa do autor. A edição apresentará uma coletânea de histórias do simpático cãozinho em diferentes épocas, trazendo a edição facsímile de Bidu 1, a raríssima primeira revista solo de Maurício, publicada em 1960 pela Editora Continental. Também com previsão de lançamento para setembro, na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

  • A criação do site Máquina de Quadrinhos, no qual crianças de todas as idades poderão criar suas próprias histórias da Turma da Mônica utilizando os bancos de imagens com os personagens, cenários, objetos e balões. Trata-se de uma iniciativa original e inovadora que permitirá, inclusive, a possibilidade de as melhores histórias tenham a chance de serem publicadas nas revistas da Turma da Mônica. Previsão de lançamento para agosto de 2009.

  • Um livro, que ainda não foi batizado, contando a trajetória artística de Maurício de Sousa, década a década. Tal obra apresentará informações contidas na exposição do MuBE da forma mais completa possível, além de outras inéditas. Previsão de lançamento para dezembro de 2009.

  • O CD Maurício, 50 anos de música. Ao completar 50 anos de carreira, Maurício de Sousa pode garantir: é o som da alegria. São mais de mil músicas para shows, desenhos animados, campanhas e programas especiais com a participação dos personagens mais amados do Brasil. Um trabalho realizado com muita harmonia entre compositores e músicos, orquestrado pelo departamento de som da Maurício de Sousa Produções e dirigido por Márcio Araújo.

  • A exposição Maurício 50 anos, que se realizará no MuBE, em São Paulo, relembrará a trajetória de sucesso do artista, desde as primeiras tiras de jornal até ele se tornar um dos autores de quadrinhos mais respeitados do mundo. A exposição é dividida em duas partes. A primeira é uma verdadeira viagem no tempo, partindo do começo simples no escritório de Maurício na rua Barão de Limeira e mostrando a evolução de seus personagens, dos seus traços e da sua empresa. Os fãs poderão conferir inclusive a primeira tira de Bidu e Franjinha, que originou esta carreira de sucesso.
Será possível ainda acompanhar a consagração do primeiro gibi da Mônica, em 1970, a explosão dos desenhos animados da Turminha nos anos de 1980, a expansão comercial na década de 1990 e os novos projetos dos anos 2000, como a consagrada Turma da Mônica Jovem, o maior sucesso do mercado de quadrinhos do Brasil nas últimas três décadas. A segunda parte da mostra é focada no lado artista de Maurício de Sousa. Estará exposta a coleção de quadros e esculturas em que ele homenageia grandes mestres das artes. São releituras de Leonardo da Vinci, Rodin, Michelangelo, Degas, Cézanne, Caravaggio, além de algumas surpresas clássicas gregas e egípcias que o público poderá conferir de perto, dentro e fora da galeria. Tal exposição já foi realizada em uma elogiada passagem na Pinacoteca de São Paulo.

Atualmente, as revistas da Turma da Mônica representam mais de 80% do mercado editorial de quadrinhos brasileiro. E esse êxito se repete nas outras áreas de atuação da Maurício de Sousa Produções, como livros, produtos licenciados, desenhos animados, teatro, parques, projetos especiais, gibis institucionais, exposições e outras mídias. Mais do que uma homenagem ao criador da Turma da Mônica, a exposição Mauricio 50 Anos resgata a história de sucesso de um ícone da cultura popular deste País.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Michael, You Are Not Alone!

Esqueça o lado DANGEROUS de Michael Jackson, não foi este o que o fez ascender no mundo da música. Logo os nove anos, mal sabia o ABC, e já cantava com os Jackson 5. Porém, sua carreira solo foi o que fez toda a diferença. Em uma parceria maravilhosa com o maior produtor musical do planeta, Quincy Jones, fez quatro de seus cinco álbuns de estúdio que se tornaram os mais vendidos mundialmente em todos os tempos: Off the Wall (1979), Thriller (1982), Bad (1987), Dangerous (1991) e, produzido com nomes como R. Kelly, HiStory: Past, Present and Future – Book I, saiu do forno em 1995.

Michael Joseph Jackson era um artista completo, cantava maravilhosamente BEN, dançava como se não houvesse gravidade, como em SMOOTH CRIMINAL, além de ser um ótimo compositor, mas foram os vídeoclipes que, literalmente, mudaram o modo de ver a música no mundo. Cheio de efeitos visuais, Michael fez o mundo parar em 1982 com o lançamento de seu maior single, THRILLER, conseguiu algo que ninguém até hoje atingiu: vendeu mais 105 milhões de cópias. No clipe THRILLER a superprodução colocou o mestre do Terror, Vincent Price, para falar no finalzinho da música, aquela voz tenebrosa é dele e o rosto que aparece no final também. A coreografia é até hoje copiada e faz parte do inconsciente coletivo.

Você deve REMEMBER THE TIME em que o mundo aguardava ansioso por um novo hit do cantor, e assim foi por toda a sua carreira. Os fãs são os protagonistas das mais incríveis demonstrações de louvor a um ídolo. No DVD HIStory é possível ver essas manifestações de carinho e loucura ao som de Carmina Burana.

Por mais que alguns exaltem o lado BAD do artista, prefiro ver o quanto ele lutou pela HEAL THE WORLD, como em WE ARE THE WORLD, música feita em parceira com Lionel Richie e que tinha a intenção de arrecadar fundos para combater a fome na África, ou em THEY DON´T CARE ABOUT US, onde claramente falava sobre a violência, citando Martin Luther King. O clipe desta música, por sinal, tem uma versão filmada no Brasil.

Você pode não gostar de Michael Jackson, mas não pode culpá-lo por ter sido o maior ícone da música, se quer culpá-lo por algo BLAME IT ON THE BOOGIE, seja ele BLACK OR WHITE. Michael merece um post mais elaborado que esse, que farei futuramente, mas não podia deixar de homenageá-lo.

Michael, o mundo continuará ROCK WITH YOU!

TOP 5 - Esse é o meu, comente com o seu!



5º Remember the time
4º Rock With You
3º Blame it on the boogie
2º Don´t Stop ´Till You Get Enough
1º THRILLER

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Sétimo Selo

Revi por esses dias o que talvez seja o mais conhecido filme de Ingmar Bergaman, O Sétimo Selo. Se não é o mais conhecido, ao menos é sem dúvida o que contém a cena que mais se gravou no imaginário popular sobre o cinema de Bergman: a cena do cavaleiro jogando xadrez com a morte em pessoa. Deliciado pelo reencontro com esta obra-prima do diretor Sueco, fui rever o que havia escrito sobre o filme na primeira vez que o vi. Peço licença para reaproveitar o texto neste espaço, pois é exatamente o que eu escreveria hoje:

Em O Sétimo Selo, Bergman concentra seu foco existencialista na questão da fé. Através da jornada de retorno para casa, seu protagonista se vê frente a frente com a morte de duas formas: pela devastação de sua terra natal e pela vinda da própria, em pessoa, no seu encalço. Diante desse retorno para casa, difícil e cheio de obstáculos, impossível não pensar no mito de Ulisses e de Ítaca. Como o herói do clássico ocidental de Homero, o herói de Bergman também obstina rever a esposa e retomar seu lar, mas as semelhanças param por aí.

Na história, Antonius Block (Max Von Sydow) é um cavaleiro que retorna após 10 anos, depois de lutar nas cruzadas (onde foi lutar por Deus e pela fé cristã). Logo ao chegar é abordado pela Morte, que veio lhe dizer que seu tempo acabara e que viera buscá-lo. Ardiloso, convida a Morte para uma partida de xadrez, mesmo sabendo que ela nunca perde. Assim, consegue ganhar algum tempo e adiar sua ida para o outro lado. É enquanto a partida se desenrola - com intervalos indefinidos, pois a Morte andava ocupada naqueles tempos - que Block segue seu caminho rumo ao lar. E é nessa caminhada, entre um lance e outro de xadrez, que ele constata a devastação pela qual passa sua terra, afligida pela Peste Negra.

Surgem então as questões primordiais que darão a profundidade do personagem, pois é em sua fé que ele passa a questionar a existência de Deus. Assim, mais do que voltar para casa, Block procura por respostas às suas indagações. Ele quer saber “onde” está Deus, e até mesmo onde está o diabo, pois “o diabo deve conhecer Deus como ninguém". Em busca dessas respostas o herói bergmaniano de O Sétimo Selo enfrenta-se com todas as coisas e a tudo questiona, sempre sob a ótica da fé.

O filme é rico em figuras e símbolos, muitas vezes irônicos, outras vezes sutis. Com a Peste Negra se espalhando rapidamente e dizimando a população, surgem figuras bizarras, como os que se auto-flagelam em busca da redenção de seus pecados, além daqueles que, tão usualmente na época, queimam mulheres suspeitas de bruxaria. Mas a certeza coletiva é de que se aproxima o dia do Juízo Final, que o sétimo selo em breve será aberto e os anjos receberão suas trombetas. É esse clima de fim do mundo umas das coisas que mais impressionam no filme, pois é onde o mitológico se torna quase palpável e transcende da tela para o espectador.

Também as figuras de Antonuis Block e seu escudeiro, Jöns (Gunnar Björnstrand), trazem uma dualidade irônica e profunda, quase simbiótica em alguns momentos. Enquanto Block vive no espírito a intangível e incurável angustia de sua fé - que se afirma mais nítida no seu questionamento de Deus: "A fé é uma aflição dolorosa. É como amar alguém que está sempre no escuro e nunca vem quando chamamos." -, Jöns é um cético e incrédulo que crê apenas no vazio e por isso mesmo não sofre e com nada se aflige.

E é assim que seguem, junto a outros personagens de diversas matizes, todos tementes ao juízo final e à Morte, cada um com seu semblante revelando a maneira como encaram ou não a compreensão (ou não) dos desígnios de Deus.

Contudo, é no final que a inexorabilidade do destino e do tempo se revela inquebrantável e imutável. Em uma seqüência antológica, todos se vêem diante de seu destino comum e o encaram, cada um com suas próprias palavras e gestos. É quando presumimos que todas as repostas que Block buscava estavam justamente na figura da qual tentava se desvencilhar o máximo possível. Porém, é a própria Morte quem diz diante do relutante Antonius na sua hora final: "eu não sei nada".

Sem responder com clareza se o que vem depois é mesmo o vazio, como crê Jöns, Bergman nos dá, ao final de seu filme, a deixa de que talvez o mais importante não seja onde está a morte, mas sim onde está a vida. Um filme memorável.
--
O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet)
Dir.: Ingmar Bergman
Suécia, 1956
100 min.

domingo, 21 de junho de 2009

Holmes, M.D.

Quem já assistiu House provavalmente reparou que o raciocínio e poder de dedução do médico é muito semelhante ao de Sherlock Holmes. David Shore, fã das histórias do investigador inglês, nunca negou que House tenha sido inspirado em Holmes e durante as cinco temporadas da série nos deixou diversas referências à obra de Conan Doyle. E não é irônico que a pessoa que inspirou Doyle a escrever Holmes foi um médico (Joseph Bell)?

As referências vão desde as mais óbvias como a escolha dos nomes House/Holmes, Wilson/Watson até algumas mais escondidas como frases usadas por Holmes.

A vantagem de House é que ele possui muito mais profundidade como personagem do que Holmes. Como Doyle mesmo disse, Holmes é uma máquina calculadora, o que interessa a ele é apenas resolver mistérios. Aparentemente poderíamos dizer o mesmo sobre House, mas na realidade, o médico brilhante e arrogante esconde uma pessoa vulnerável e que se apega muito ao ambiente e às pessoas a sua volta. Talvez seja a falta dessa vulnerabilidade que faça de Holmes um investigador mais eficaz que House. Ele é muito mais direto na resolução de seus casos, enquanto House acerta e erra várias vezes durante um episódio. Alguns desses erros, inclusive, chegam a ser fatais para seus pacientes.

Mas vamos voltar às similaridades. Abaixo listamos algumas das principais características comuns aos dois personagens:

- Fazem deduções, em sua maioria corretas, apenas olhando para uma pessoa.
- House é um médico, enquanto Holmes foi baseado em um.
- Holmes mora em 221B Baker Street. Embora não tenha sido mencionada a rua que House mora, o número de sua casa é 221B.
- Tem apenas um amigo, Wilson para House, Watson para Holmes.
- São viciados em drogas. Holmes usava cocaína para se livrar do tédio, e House usa Vicodin para a dor em sua perna. Tanto Watson quanto Wilson tentaram fazer com que seus amigos se livrassem do uso dessas drogas.
- Arrogantes e anti-sociais.
- Tocam instrumentos musicias. Holmes toca violino, durante a série vimos House tocando piano, guitarra e recentemente gaita.
- No final da segunda temporada, House leva um tiro de um personagem creditado como Moriarty, que é o nome do inimigo de Holmes.
- Na quinta tempoarada, Wilson dá a House um livro de Joseph Bell, médico que inspirou Doyle a escrever Holmes. Quando Kutner e Taub perguntam a Wilson quem deu o livro a House, ele reponde que foi a única mulher que House amou, Irene Adler. Este é o nome de uma personagem que consegue ser mais esperta que Holmes. O investigador se refere a ela com a mulher e sempre demonstra bastante admiração à sua inteligência.
- Watson e Wilson são considerados namoradores. Ambos tiveram três esposas, e Wilson teve várias namoradas, destacando-se Amber.
- Holmes e House usam bengalas.
- Durante um episódio, House desafia sua equipe a descobrir o que há de errado com um paciente que ele já diagnosticou. Ele coloca a resposta num envelope no qual escreve 'The game is a itchy foot', referindo-se a uma frase atribuída a Holmes 'The game is afoot', que por sua vez é uma citação de Shakespeare em Henry IV.
- Ao explicar o que acredita que seu paciente com afasia está realmente dizendo, House dá um enigma para sua equipe sobre um cômodo com vista total para o sul e um urso polar. Esse enigma foi o mesmo dado a Watson por Holmes.

Se você encontrar mais alguma referência de Sherlock Holmes em House, comente e nós incluiremos aqui com os devidos créditos.

Onde assistir?
TV a Cabo: Universal
TV Aberta: Record
DVDs: quatro temporadas já estão disponíveis. A quinta ainda não tem data prevista de lançamento, mas deverá estar nas lojas em breve.

Onde ler?
Se você ficou curioso sobre as aventuras do investigador inglês, elas podem ser encontradas tanto em contos individuais quanto em compilações. Os mais famosos são: O Cão dos Baskerville, Um Estudo em Vermelho e O Mistério do Vale Boscombe.

Curiosidades:
- O problema na perna de House foi inspirado em Watson e não Holmes.
- Os livros de Sherlock Holmes são contados pelo ponto de vista de Watson. Em entrevista à TV Guide, Hugh Laurie diz acreditar que é a visão de Wilson que traz o expectador para a história. Ele compara a narração de Watson sobre seu brilhante e irritante amigo, à visão mais centrada de Wilson na série.
- House ganha a segunda edição da obra de Conan Doyle como presente de Natal na quarta temporada.

Dados técnicos:
Duração: 5 temporadas até o momento, a sexta temporada tem início dia 21/09 nos Estados Unidos, mas ainda não tem data de estréia no Brasil
Total de episódios: 110
Criador: David Shore
Elenco principal:
Gregory House: Hugh Laurie
James Wilson: Robert Sean Leonard
Lisa Cuddy: Lisa Eldenstein
Eric Foreman: Omar Epps
Allison Cameron: Jennifer Morrison
Robert Chase: Jesse Spencer
Remy 'Thirteen' Hadley: Olivia Wilde
Chris Taub: Peter Jacobson

sexta-feira, 12 de junho de 2009

GIBITECA HENFIL: Um Oásis de São Paulo

Imagine um lugar repleto de Quadrinhos, onde você pode encontrar as mais belas obras da Nona Arte. Esse lugar é a Gibiteca Henfil, localizada no Centro Cultural São Paulo, e detém um acervo de aproximadamente 121 mil exemplares.

Bate-Papo Inicial

Reaberta a visitação há menos dois meses, a Gibiteca recebeu nossa visita, e, para nossa grata surpresa, nos deparamos com um dos maiores exemplos de paixão e de dedicação a um trabalho: Yara Maria Afonso, ou melhor, Dona Yara, que está na Gibiteca desde a sua fundação, há 18 anos.Dona Yara conhece melhor do que ninguém o acervo e conta com uma memória fotográfica para elencar aquilo que já existe e o que não existe mais nas prateleiras.

No bate-papo com Hugo Abud, coordenador da Gibiteca, e com Dona Yara descobrimos o quanto é complicado manter e ampliar a coleção, que tem como objetivo, pelas próprias palavras de Hugo: "não só conter um acervo, mas ser também uma referência em quadrinhos".

Obra de Arte e Administração

As Histórias em Quadrinhos são criações artísticas que seguem diversos padrões de estilo, desde romances, até estilos dadaístas (ou há alguma outra forma de poder definir, por exemplo, alguns dos mangás escritos pelos japoneses?!), assim, não é um exagero poder classificá-las como verdadeiras obras de arte, que comungam, ao mesmo tempo, roteiro e desenhos, não sendo simples livros ilustrados, mas, sim, uma arte que em muitos aspectos é criado com muito esmero, sendo representantes de um momento cultural datado, magníficos exemplos de como a cultura se desenvolve com o passar do tempo.

Agora, ter tudo isso à mão é uma responsabilidade sem tamanho. Imagine ter que catalogar todas essas obras de arte, sem ter parceria com editoras e sem a quantidade necessária de equipamentos de informática para administrar todo esse patrimônio? E, para nosso espanto, toda a coleção foi formada por doações. Isso mesmo, os quase 121 mil quadrinhos foram doados. Já na contramão disso tudo, conta com 7 funcionários dos mais dedicados para fazer funcionar a maior Gibiteca da América Latina, além da colaboração do diretor do Centro Cultural São Paulo, Martin Grossman.

O Grande Homenageado

Para termos uma noção do mundo existente na Gibiteca teremos que começar por Henfil, homenageado no nome da Gibiteca e que foi o maior expoente das histórias em quadrinhos no Brasil. Ele nasceu a 5 de fevereiro de 1944, em Riberão das Neves (MG) e faleceu dia 4 de janeiro de 1988 no Rio de Janeiro, aos 43 anos. Grande cartunista e quadrinista, foi colaborador de O Pasquim, em 1969. Em 1970 lançou a revista Os Fradinhos, seus personagens mais famosos e que possuem como marca registrada um desenho humorístico, crítico e satírico, sendo os personagens tipicamente brasileiros e que retratavam a situação nacional da época. Sua importância na História em Quadrinhos no Brasil se deve à renovação que trouxe ao desenho humorístico nacional. Henfil participou, ainda, em teatro, cinema, televisão e na literatura, tendo sido marcante sua atuação nos movimentos políticos e sociais do país. A Gibiteca Henfil disponibiliza para consulta a coleção completa dos Fradins, os livros “A volta do Fradim”, “Diretas já”, “Isto era”, “Henfil na China”, “Fradim de libertação”, “Como se faz humor político” e exemplares do Pasquim. Possui também acervo para pesquisa sobre o Henfil, entre eles, um fanzine de autoria de José Eduardo Cimó, livros teóricos, recortes de jornais e folhetos.

Pelos Corredores

Entre nomes e definições fica a curiosidade: por que no Brasil chamamos as HQ´s de Gibi?

Isso se dá porque houve uma publicação, em 1939, denominada Gibi, que fazia um compilado de vários quadrinistas e pelo resultado do sucesso desta revista é que, até hoje, entitulamos as Histórias em Quadrinhos de Gibis, inclusive até o local em questão leva gibi no nome.

Os gibis da época você também encontra por lá e algumas raridades podem ser vislumbradas na coleção da Gibiteca, como, por exemplo, a primeira história em quadrinho brasileira: O TICO-TICO (1905 em fac-símile) e a preciosa edição número 1 da Turma da Mônica, autografada por seu criador, Maurício de Sousa, que confessou não possuir esse exemplar, tendo em sua biblioteca pessoal apenas uma cópia montada por sua equipe recentemente. Além disso, o local possui também o Tarzan desenhado por Hal Forster, o número um da revista Super-homem no Brasil, o número um da revista Tex, além de peças mais contemporâneas como Palestina: Na faixa de gaza e Área de Segurança: Gorazde de Joe Sacco , Sandman de Neil Gaiman (eles tem uma autografada pelo próprio), Calvin e Haroldo de Bill Watterson, Mafalda de Quino e Tintim de Hergé.

Há também uma parte dedicada ao fanzine, neste espaço que possui hoje 3.100 exemplares podemos ver peças raras, como A Boca e Balão, que revelou figuras como Paulo Caruso, Luis Gê, Angeli e Laerte. Hugo nos revelou que existe a intenção de fazer uma exposição, prevista para outubro deste ano, sobre quadrinho marginal, algo especial para os novos nomes do quadrinho brasileiro e para conhecer a história daqueles que começaram por essa vertente.

Há histórias pitorescas como o do famoso quadrinista Lourenço Mutarelli, que frenquentava a Gibiteca e conheceu a sua esposa por lá; ou as várias exposições onde se fizerem presentes gente hoje muito famosa como Angeli, Laerte, Maurício de Sousa e muitos outros.

Para o Futuro

Alguns pontos foram tocados por Hugo, que na verdade, ele colocou como metas para o futuro da Gibiteca, que vamos listar aqui, até porque gostaríamos muito que a sociedade pudesse colaborar com o cumprimento desses objetivos:

1º Resgatar o público e divulgar o novo espaço;
2º Retomar os eventos;
3º Informatização a catalogação do administrativo da Gibiteca;
4º Enviar um projeto para digitalizar parte do acervo;
5º Criar parcerias com editoras, inclusive para lançamentos de novas edições.

Considerando a qualidade desse Oásis e das pessoas que fazem as engrenagens funcionarem, esses objetivos já foram alcançados.

Se quiserem ver nossa galeria de fotos da Gibiteca é só entrar aqui

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Crítico

Como em quase todas as artes, o cinema também pode proporcionar com uma obra o que chamarei de “desencontro da crítica”. Isso nada mais é do que um filme causar ótimas impressões em alguns críticos e péssimas em outros. Isso prova, tão somente, que a crítica – assim como a arte, felizmente – não é ciência exata. Melhor, não é nem ciência e nem exata.

Um dos críticos que admiro costuma se referir aos demais como “coleguinhas”. Há nesse termo uma leve pecha de ironia, já que costuma usá-lo quando sua impressão de um filme difere da dos colegas.

Detestar um filme que todos adoram ou amar um filme que todos odeiam coloca qualquer crítico sob auto-suspeição. Afinal, pode-se perguntar o crítico intimamente, o que eu não vi que todos viram? Ou, porque só eu vi o que ninguém parece ter visto?

São dilemas que certamente, vez por outra, farão parte da vida de qualquer um que busque apreciar o cinema sob uma ótica menos passiva e mais “opiniosa”. O engraçado é que à partir do momento que você percebe que sua impressão de um filme vai na contra-mão de todos, aquilo vira meio que uma guerra ou um jogo de tribunal, no qual você defende seu ponto de vista com qualquer argumento que encontrar e adota o filme quase que com um idealismo arregimentado.

Independente de qualquer coisa, acredito que se deva ter personalidade e, a despeito dos contrários – por maiores e mais consolidados que sejam – sustentar sua posição, mas sem nunca tornar-se um teimoso. É preciso humildade para reconhecer quando se está equivocado. É preciso rever o filme em questão com um olhar franco e, se for o caso, rever sua posição. Mas, se caso nada do que te impressionou ruir na revisão, então é preciso sustentar sua opinião, ainda que você seja apenas um Zé-Ninguém que gosta de falar de cinema.

Grandes críticos já cometeram deslizes e condenaram ao esquecimento filmes que se tornaram clássicos ou elevaram ao olimpo filmes que não são lembrados nem por quem os fez. O que difere um crítico de vulto de um crítico menor é a humildade em reconhecer quando errou, em admitir sua cegueira momentânea ou suas referências desgastadas diante do novo. Assim era um dos maiores de todos os tempos, o francês André Bazin, referência a quase todos os críticos desde o surgimento da Nouvelle Vague.

Muito se discute o papel e a relevância do crítico, seja no cinema, na literatura ou qualquer outra expressão artística. Em tempos de massificação, pulverização, diluição em fórmulas pré-fabricadas de sucesso, o nariz torcido de um crítico pode parecer sempre esnobe e desnecessário. Afinal, como crêem alguns, se todos gostam e só eles (os críticos metidos a intelectuais) não, então eles que revejam seus conceitos. Mas como dizia sabiamente Nelson Rodrigues: toda unanimidade é burra. Às vezes, assustadoramente burra.

Seja como for, acredito que aquele que se envereda pelo árido e inglório caminho da crítica, seja de forma séria e acadêmica, seja pelo simples prazer de expressar seu pensamento (coisa rara e corajosa em dias de apatia e conformismo), deva sempre se perguntar e se questionar, mas nunca se curvar simplesmente à maioria. É preciso personalidade e coragem, mas acima de tudo paixão. Quanto a erros e acertos, se vai pelo caminho remendando-os e colecionando-os, para quê não se sabe ao certo; sabe-se apenas do dever de seguir. Ainda que a maré seja contrária, não se pode deixar de remar pelo que se acredita, mesmo que o cansaço e o esquecimento sejam a única certeza no fim da jornada.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Let´s Groove!

Saudações, ouvintes! Ou melhor. Digo, olá, leitores! Estamos de volta com mais um texto do ComTatos. Mas, hoje, a sua leitura vai ser diferente. Primeiramente, desligue-se de tudo à sua volta. Plugue o fone de ouvido ou aumente o volume das suas caixas de som, porque este post vai mexer com você, literalmente.

*** Clique no play e deixa o podcast rolar ***


O texto está devidamente acompanhado com o nosso primeiro podcast (portanto, dá um desconto, hein?!), para você sentir o clima da nossa visita à gravação do programa JazzMasters. Sim, estivemos lá!

Eu não sei dizer, exatamente, quando conheci o JazzMasters, mas é um dos poucos programas de rádio que tocou fundo minha alma musical e me ganhou de vez. Na primeira vez em que ouvi, na Rádio Eldorado, me identifiquei com as músicas e durante o expediente de trabalho visitava o site e ouvia as edições já gravadas, uma após a outra. Pô! Trabalhar ao som de groove, disco, acid jazz e R&B deixa as tarefas do dia muito mais agradáveis. Experimente! Depois que adquiri este hábito, tenho feito descobertas deliciosas, como “Squeeze me”, canção de Krack & Smack, que ganhou o posto de toque do meu celular. (às vezes até demoro a atender só para ouvir a levada dançante).

Já declarada adicta, estava em casa ouvindo mais uma edição quando o Ronaldo sugeriu que eu mandasse um e-mail para o site, a fim de entrevistar o Paulo Mai e o Sérgio Scarpelli, responsáveis pelo programa. E não é que, para minha surpresa, os caras não só toparam como convidaram eu e o Ronaldo para acompanharmos a gravação do programa?! Pois bem, agora vocês saberão de tudo o que rolou na fria manhã de domingo passado, no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo.

Quer ver como foi? veja nossa galeria de fotos clique aqui


Notas explicativas do encarte

Você sabe o que é o JazzMasters?

Essa pergunta não é muito complicada de responder. Basta pensar que os anos 70 tiveram uma grande importância e influência na música que ouvimos hoje, e o que o JazzMasters faz, com excelência, nada mais é que colocar KC and Sunshine Band, Chic, Earth, Wind and Fire, Marvin Gaye, Aretha Franklin, Michael Jackson, entre outros que foram marcantes nesse período, juntamente com grandes artistas de hoje como Jamiroquai, Gnarls Barkley, DJ Meme, Amy Winehouse, e muitos outros nomes que utilizaram a black music como referência, depois, pôr tudo isso num liquidificador e bater com uma dose de clima descontraído. O resultado é um ótimo programa de rádio que serve uma porção por semana, mais precisamente nas noites de sábado, às 20h em sampa, além dos tira-gostos durante a semana às 10h30 e 14h15 também na capital paulista.

A qualidade do programa é notória pela sua audiência e alcance. Hoje, são mais de 10 cidades atingidas pela boa música: Salvador (BA), São Lourenço (MG), Campina Grande (PB), Lambari (MG), Araçatuba (SP), Fortaleza (CE), Curitiba (PR), Estrela (RS), Rosário do Sul (RS), São Paulo (capital) e o litoral paulista, fora o “Internet´s World”!

Faixa 1

Nada melhor para quebrar um gelo do que um café quentinho, não é mesmo?!. Chegando lá, após as devidas apresentações, começa o bate papo informal e somos recebidos com muita simpatia e com um cafezinho expresso. Depois do aquecimento (literalmente, porque era cedinho e o frio matinal não dava trégua) rumamos aos estúdios para conhecer a essência dos Jazzmasters, sem saber que, na verdade, o programa já havia começado lá mesmo, na conversa descontraída, enquanto o cafezinho estava sendo preparado.

Chegando no estúdio, o clima de bom gosto, refinamento e boa música é denunciado pela porta decorada com fotografias em preto e branco de ícones, como Miles Davis, dando as boas vindas aos visitantes.


Som na caixa

É a vez de conhecer o que o Sergio Scarpelli separou para as duas edições do Jazzmasers, um levado no swing da disco music e outro fincado nas batidas do R&B. Esta é a hora dos Masters mostrarem, realmente, ao que vieram. Eles não têm o título de máster à toa. O programa é feito por dois apaixonados: Paulo pelo rádio e Sergio pela música. “Eu compro muita música, na verdade, todo dia eu compro pelo menos uma músic. Hoje, às 7h da manhã eu já tinha comprado duas músicas.”

O que ouvimos nas noites de sábado, quando o programa vai ao ar aqui em Sampa na 92,9 FM (Rádio Eldorado), é mais do que um compilado de músicas: é uma aula para os aficionados por boa música. É impossível ficar indiferente depois de ouvir as dicas dadas pelos Jazzmasters, como esta do Sergio: “depois do Gnarls Barkley a música pop tem que ser repensada”. Fala sério, e não é verdade?!

O site tem 7 mil ouvintes cadastrados e já lançou dois CDs com alguns dos sucessos tocados no programa. Segundo os idealizadores, atualmente, o site já é referência em termos musicais voltados à black music.

Quando questionado sobre como monta o setlist, Sergio responde com um simples gesto: passa a mão no braço no sentido da corrente sanguínea, retratando a emoção ao escolher as músicas . “Eu monto o setlist na veia, no feeling. Ouço uma música e vou montando o programa em cima dela. Com esse foi assim. Eu ouvi uma música da Jennifer Hudson e logo pensei: preciso terminar o programa com essa”.

Sergio é um “fuçador filho da puta”, segundo sua próprias palavras. Parte de um gosto musical e vai linkando, linkando, até achar as raridades retratadas nos alto-falantes do se
u som, pelos Jazzmasters. Um dos mais recentes achados é Tamika Nicole, talentosíssima cantora entrevistada pelo Sergio no site do JazzMasters.


Até para gravar as sonoras o clima leve e descontraído continua, em meio a gaguejadas, risadas e engasgadas que a gente não tem o privilégio de ouvir no ar. Estar presente no estúdio e perceber a sintonia dos dois apresentadores e os divertidos recados mandados a Marco Crozera (diretor executivo) foi uma experiência, simplesmente, prazerosa e memorável. Até esqueci que havia dormido somente duas horas, depois de ter tomado tequila com os amigos no aniversário da Déia (nossa colunista) até as 4 da manhã.

De volta pra casa

Tristes com a hora de dar tchau e ter que deixar a divertida companhia dos Masters, Paulo me surpreende com sua gentileza ao oferecer uma carona até a Zona Nobre, digo Zona Norte de Sampa City. E é no caminho de volta pra casa que eu conheço toda a história dos Jazzmasters, diretamente da boca de seu idealizador.

Foi incrível ver como Paulo Mai, ao mesmo tempo que toma uma postura altamente profissional, também é apaixonadíssimo pelo que faz. Isso é visível pela evolução de sua carreira, que iniciou-se aos 12 anos, no interior de São Paulo e hoje é referência nas ondas do rádio, assim como outros ícones da área, como Julinho Mazzei.

Bônus track

Irreverente e despojado, calçando um estiloso All Star amarelo, Sergião (como é chamado pelos amigos de estúdio) convida a todos para a festa dos Jazzmasters e avisa que já separou o figurino que vai usar na comemoração do aniversário de 5 anos do site, no Asia 70. Uma camiseta com a estampa de... Ops.. Quer saber? É só se cadastrar no site e garantir o desconto do seu ingresso para a balada do dia 30 de junho. Nos vemos lá!

Agradecimentos

Antes de encerrar com um “quê” de quero mais, gostaria de agradecer imensamente não só a receptividade, o carinho e a simpatia com a qual Paulo Mai e Sergio Scarpelli nos receberam naquela manhã fria e dançante de domingo. Conhecê-los de perto só me fez admirar e recomendar ainda mais o ótimo trabalho tão cuidadosamente feito por eles.


*P.S: Texto escrito ao som de Signed, Sealed, Delivered – versão de Blue & Stevie Wonder, no repeat ad eternum mode on.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Uma Trilogia Discreta

O cinema, pela sua vertente da ficção e da multiplicidade do possível - que vai além de qualquer impossibilidade física do mundo real -, é das poucas linguagens cujo subtexto pode atingir patamares insuspeitados. Qualquer investigação atenta a alguns filmes pode revelar intenções escamoteadas em simples ângulos de câmera, ou sequências, ou figurinos, ou cenários e outros tantos elementos da linguagem cinematográfica além do próprio diálogo ou da simples imagem em movimento. Claro que se pode sempre cair nalgum equívoco de julgamento e enxergar subtexto onde não há nada além do que há na tela. Mas certos elementos e coincidências parecem se encaixar tão azeitadamente que fica difícil negar que há ali, na disposição desses fatores, um significado que ultrapassa o elementar.

Minha admiração pelo diretor Steven Spielberg ganhou contornos muito mais sérios e profundos depois que me foi revelado a ligação por trás de três filmes recentes do diretor. Três filmes que em princípio nada tem em comum, fora o fato de serem dirigidos pela mesma pessoa, e que se revelam interligados diretamente, formando uma trilogia contundente e dissecadora de um trauma recente na vida de uma nação e na história da civilização contemporânea: os atentados de 11 de setembro de 2001.

Assim, os filmes O Terminal, Guerra dos Mundos e Munique são, na verdade, uma trilogia sobre o mundo pós-11 de setembro. Mas qual coesão improvável pode unir três filmes completamente diferentes entre si aos referidos atentados e como eles formam uma unidade conceitual? Para entender como isso é possível, vamos a uma análise mais detalhada de cada um.

O Terminal: primeiro filme da suposta trilogia, trata de um imigrante que ao chegar aos EUA se vê proibido de entrar no país. Sem possibilidades financeiro-burocráticas de retornar a seu país, é obrigado a permanecer indefinidamente no terminal do aeroporto, uma espécie de limbo entre a “terra das oportunidades” e seu próprio e modesto mundo. Dentro desse terminal, vemos surgir aos poucos um micro-cosmos representativo da sociedade norte-americana e da problemática do imigrante. Há o poder constituído que primeiro barra e depois fecha os olhos ao problema, vemos o preconceito xenófobo, a dificuldade de integração e interação, vemos o esforço do imigrante em sobreviver ao ambiente hostil, vemos as barreiras culturais, de idioma, de costumes. Mas principalmente o que se vê é um endurecimento e uma forte mudança no trato ao imigrante. E isso como efeito direto do trauma pós-11 de setembro, quando se passa a olhar com profunda desconfiança a qualquer estrangeiro que tenta entrar no país. É através desse drama cômico que Spielberg expõe a reação paranóica contra estrangeiros que tomou conta do país após os atentados.

Guerra dos Mudos: sendo ao mesmo tempo uma adaptação de um livro do século 19 e uma refilmagem de um clássico dos anos 50, este filme não deixa de ser emblemático como parte de uma trilogia. É também nele que mais se encontra traços claros que remetem ao 11 de setembro, como as cinzas das pessoas desintegradas pelos alienígenas, ou o fato de que as naves estavam há muito tempo escondidas sob o solo sem que ninguém suspeitasse. Ou ainda em diálogos onde se diz textualmente que não se pode ocupar um país (ou um planeta, ou uma civilização), pois as história já mostrou mil vezes que isso não funciona; e também o personagem de Tim Robbins, que ridiculamente encarna o pensamento tacanho e belicista do revide puro e simples, sem se importar com consequências.

Impera em Guerra dos Mundos de Spielberg o horror absoluto de uma invasão por um inimigo desconhecido e mais poderoso. Horror que trás dois lados, duas perspectivas diferentes, mas pertencentes a uma mesma unidade factual: o terror estupefato do impensável acontecendo diante de seus olhos (o mesmo que se sentiu diante da queda das torres gêmeas) e o terror da fragilidade ante um poderio bélico incomparável e insuperável (o mesmo que devem ter sentido as populações do Afeganistão e do Iraque). Duas faces da mesma moeda, cara e coroa; um jogo de perde-perde. Mas em qualquer dos dois ângulos o que prevalece é o pesadelo da certeza de impotência diante dos fatos.

Munique: o último e melhor filme da trilogia vence os demais em complexidade e adensamento reflexivo. O filme parte da dissecação e expurgo de um fato real e crítico que mancha a história do estado de Israel. Trata-se do que ficou conhecido como operação Ira de Deus, uma ação ultra-secreta do Mossad, o serviço secreto israelense, autorizada pela então primeira-ministra de Israel, Golda Meir. A operação consistia em caçar e assassinar uma lista de nomes supostamente ligados ao grupo terrorista Setembro Negro, que nas Olimpíadas de Munique de 1972, sequestrou e executou 9 atletas israelenses. A questão levantada no filme é o papel do Estado como instrumento de vingança e a política belicista do revide a qualquer preço. Esta distorção nas atribuições do Estado e o descarte de qualquer meio político-diplomático para a busca e punição de culpados remete imediatamente à política Bush pós-11 de setembro e sua sanha em “vingar”, com seu vasto poderio bélico, os atentados sofridos pelos EUA. Contudo, é através da desconstrução da figura do herói vingador e sua derrocada dentro de sua própria consciência, que Spielberg dá o golpe final em sua análise crítica dos efeitos e equívocos nocivos germinados – como frutos podres - dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001.

Três filmes díspares (uma comédia humana, uma desventura catástrofe e uma tragédia grega moderna), diferentes em tudo, mas sutilmente alinhavados pelas consequências de um mal maior que gera outro mal maior e a dissecação sorrateira dos mecanismos que azeitam o mal dentro do humano e o humano dentro do mal.