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quinta-feira, 11 de junho de 2009

O Crítico

Como em quase todas as artes, o cinema também pode proporcionar com uma obra o que chamarei de “desencontro da crítica”. Isso nada mais é do que um filme causar ótimas impressões em alguns críticos e péssimas em outros. Isso prova, tão somente, que a crítica – assim como a arte, felizmente – não é ciência exata. Melhor, não é nem ciência e nem exata.

Um dos críticos que admiro costuma se referir aos demais como “coleguinhas”. Há nesse termo uma leve pecha de ironia, já que costuma usá-lo quando sua impressão de um filme difere da dos colegas.

Detestar um filme que todos adoram ou amar um filme que todos odeiam coloca qualquer crítico sob auto-suspeição. Afinal, pode-se perguntar o crítico intimamente, o que eu não vi que todos viram? Ou, porque só eu vi o que ninguém parece ter visto?

São dilemas que certamente, vez por outra, farão parte da vida de qualquer um que busque apreciar o cinema sob uma ótica menos passiva e mais “opiniosa”. O engraçado é que à partir do momento que você percebe que sua impressão de um filme vai na contra-mão de todos, aquilo vira meio que uma guerra ou um jogo de tribunal, no qual você defende seu ponto de vista com qualquer argumento que encontrar e adota o filme quase que com um idealismo arregimentado.

Independente de qualquer coisa, acredito que se deva ter personalidade e, a despeito dos contrários – por maiores e mais consolidados que sejam – sustentar sua posição, mas sem nunca tornar-se um teimoso. É preciso humildade para reconhecer quando se está equivocado. É preciso rever o filme em questão com um olhar franco e, se for o caso, rever sua posição. Mas, se caso nada do que te impressionou ruir na revisão, então é preciso sustentar sua opinião, ainda que você seja apenas um Zé-Ninguém que gosta de falar de cinema.

Grandes críticos já cometeram deslizes e condenaram ao esquecimento filmes que se tornaram clássicos ou elevaram ao olimpo filmes que não são lembrados nem por quem os fez. O que difere um crítico de vulto de um crítico menor é a humildade em reconhecer quando errou, em admitir sua cegueira momentânea ou suas referências desgastadas diante do novo. Assim era um dos maiores de todos os tempos, o francês André Bazin, referência a quase todos os críticos desde o surgimento da Nouvelle Vague.

Muito se discute o papel e a relevância do crítico, seja no cinema, na literatura ou qualquer outra expressão artística. Em tempos de massificação, pulverização, diluição em fórmulas pré-fabricadas de sucesso, o nariz torcido de um crítico pode parecer sempre esnobe e desnecessário. Afinal, como crêem alguns, se todos gostam e só eles (os críticos metidos a intelectuais) não, então eles que revejam seus conceitos. Mas como dizia sabiamente Nelson Rodrigues: toda unanimidade é burra. Às vezes, assustadoramente burra.

Seja como for, acredito que aquele que se envereda pelo árido e inglório caminho da crítica, seja de forma séria e acadêmica, seja pelo simples prazer de expressar seu pensamento (coisa rara e corajosa em dias de apatia e conformismo), deva sempre se perguntar e se questionar, mas nunca se curvar simplesmente à maioria. É preciso personalidade e coragem, mas acima de tudo paixão. Quanto a erros e acertos, se vai pelo caminho remendando-os e colecionando-os, para quê não se sabe ao certo; sabe-se apenas do dever de seguir. Ainda que a maré seja contrária, não se pode deixar de remar pelo que se acredita, mesmo que o cansaço e o esquecimento sejam a única certeza no fim da jornada.

2 comentários:

Nathalya Buracoff disse...

Muit bom! Acho que a crítica de cinema deve ser algo solitário, pois um filme pode ter as mais diversas interpretações possíveis e são tão subjetivas quanto a personalidade de cada um. No fim, o que move a crítica de cinema é mesmo a paixão.

Sandra SILVA disse...

Querido Roger,
me diga uma coisa, vc deve ter assistido o filme " Quem somos nós" que fala sobre fisica quantica? se puder comentar para mim a respeito.
abraçao
sandra