No ano do centenário de imigração japonesa, o que fica presente depois desses cem anos é o espírito de perseverança e luta de um povo que um dia saiu de sua terra natal para tentar a sorte num lugar onde ninguém imaginava dar certo. Tanto deu certo que um bairro em São Paulo vive essa certeza.
O Bairro da Liberdade, que tem esse nome desde 1858, abriga em plena harmonia três diferentes cultural orientais, os Japoneses, os Chineses e os Coreanos que apesar do olho puxado possuem vertentes bem diferentes.
O pitoresco lugar de São Paulo traz entre suas diversas atrações uma feira que funciona aos finais de semana, com gastronomia, artesanato e outras relíquias da cultura oriental. Junto com alguns amigos, sempre fomos um dos freqüentadores da barraca do magnífico Guioza. Para nosso espanto, hoje, ao voltar ao local com o intuito de degustar a iguaria tivemos uma desagradável surpresa? Cadê a tradicional barraquinha?
O Guioza, segundo nossa fonte e profundo conhecedor do assunto, foi, bem nos primórdios, introduzida à culinária pelo povo indonésio, que separava em trouxinhas de massa de arroz pequenas porções de carne de vaca, porco e uma pequena porção de legumes. Isso porque, era um alimento feito para não existir divisão, colocado a disposição em um momento de escassez de comida.
A Dona Yoko Nakamura, veio de Itapecerica para São Paulo há mais de 30 anos, em busca de melhores condições de vida. Aqui ela encontrou a oportunidade que precisava aprendendo sobre culinária e lapidando um dom que fez dela referência. Logo depois de passar por um restaurante, resolveu colocar uma barraca na tão famosa feira da Liberdade para vender e divulgar o Guioza. Pelo menos durante seus primeiros 10 anos só tomou prejuízo, como ratificou Frank Nakamura.
Honorável Frank que viveu praticamente sua vida fechando os tão famosos bolinhos, teve como grande mestra e incentivadora a mãe. Dona Yoko estreitou seus laços com seus filhos, ao manter seus rebentos ao seu lado, formou neles um espírito que vai muito com a raiz daqueles imigrantes que vieram para o Brasil para manter a dignidade de suas famílias. Ensinou princípios e acima de tudo respeito pelas pessoas.
"Eu não vendo só guioza ou nikumanju, eu vendo os fundamentos da cozinha" - falou com propriedade Frank, que aos 30 anos se vê num dilema. Após o falecimento de sua mãe o direito de manter a barraca na feira foi perdido, e as três décadas de história foram colocadas de lado por causa da burocracia das leis municipais.
O que espanta é que uma pessoa que empregava 17 pessoas diretamente, além, de várias outras indiretamente, perde o direito de trabalhar. E na contra-mão você encontra milhares de empresas capitalistas que para se manterem no mercado e baixarem seus custos mandam centenas para o olho da rua e os prefeitos dão seus tapinhas nas costas sempre dizendo que é de uma grande empresa assim que a cidade precisa.
O que a cidade precisa é de gente como a Dona Yoko e o Frank, que tem dignidade e honra, o que a cidade precisa é de alguém que realmente governe.
O jovem Frank não desistiu de seus sonhos e mantem viva a sua origem, em um espaço ao lado do Habib´s, na Avenida Liberdade, 638, vendendo seus deliciosos guiozas e nikumanjus (bolinhos cozidos feitos de massa de arroz com recheios variados, como o de carne de vaca com curry, com sabor bem marcante e agradável. Mas acima de tudo o Frank não troca dinheiro por comida, ele troca laços de amizade com seus clientes, que hoje, tornaram-se amigos.
Perpetuando o ideal passado por Dona Yoko, Frank estabelece laços com as pessoas que o prestigiam na cozinha. As mãos de Frank, marcadas pelos cortes das facas, que simbolizam seu aprendizado na cozinha são a prova de que o mais tradicional guioza paulistano é feito com muita tradição, e acima de tudo, COM TATO, com cuidado e carinho.
O bairro da Liberdade traduz no nome a essência da convivência pacífica de diferentes povos e o respeito pela multiplicidade de culturas e nós, como freqüentadores assíduos deste celeiro cultural fizemos questão de registrar nossa indignação com esta situação revoltante.
Há nove meses um dos representantes da cultura oriental de um evento tão múltiplo perdeu o direito, seu por herança e por mais de vinte anos de trabalho e dedicação, de não apenas vender "bolinhos japoneses", mas de propagar o verdadeiro espírito de honra e tradição, tão marcantes na cultura japonesa e tão invejados por nós, brasileiros sem passado e sem laços de honra com nosso folclore.
Cultura não se traduz apenas em visitar museus, pinacotecas, estantes de literatura e feiras de artesanato das rendeiras no sertão do nordeste. Cada um de nós somos agentes da cultura, nós a propagamos. Portanto, cultura é passar para seus filhos, amigos e familiares os ideais herdados de nossos antepassados, e desta maneira, interferirmos no meio em que vivemos, criando a cultura local na qual todos somos inseridos.
Nossa consternação não ficará muda, porque queremos que a filha de Frank, que virá em agosto próximo, possa perpetuar o legado de sua "Batchan"(Avó em japonês). Queremos que os visitantes da Feira da Liberdade possam conhecer histórias de vida de família de imigrantes japoneses, como a de Frank, e queremos que a história não se encerre com uma tradicional feira de cultura oriental vendendo acarajé, como acontece atualmente.
6 comentários:
Eu admito, a cultura japonesa é superior a a nossa!!!
Rola um respeito a vida, a cultura e ao ser humanos...Lá, os valores existem...
Viva o Japão
To contigo e nao abro (nem ferrando...:P)
Chata essa situacao. Ainda bem q ele ainda esta la (tecnicamente...); que absurdo isso.
Espero q haja uma solucao favoravel aos Nakamura, dentre outros motivos, por adorar demais esse Bairro e essa comunidade. Liberdade!!!
Tambem concordo com o colega Ricardo. Goshtei desta materia.
Abracos Sr. "Silva Jr." huehehe
Itekimasu.
Oi! Hoje é um dia feliz, pois fiquei finalmente sabendo o que havia ocorrido com a barraca de guioza, eu aaamoooooooooooooooo!!!
Ainda mais por saber que posso comprar novamente. Desejo apenas que esles possam retornar à feira.
Obrigada! Mayra
Não creio!!! Q hoje Finalmente descobri o q aconteceu com a barraca tão adorada e apreciada!!! Achei a materia maravilhosa e a situação ridícula!!! Burocracia burocracia... isso acaba lesando até mesmo a propria feirinha!! Q eu mesmo... dimminiu muito a minha frequencia por conta de não encontrar mais o quioza!!! Chocada, mas pelo menos aliviada... pois agoa sei onde encontrar de novo!!! Obrigada!!!
Caro leitor!
O Frank e seu maravilhoso Guioza já voltaram à feira da Liberdade, porém apenas aos domingos. Vale a pena conferir!
Abraços,
Bom dia! Excelente matéria! Conheço a família há tempos e também sou uma apreciadora de tudo o que a família prepara! Sempre com muito carinho e amor!
Parabéns pela matéria mais uma vez!!!!
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