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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Bastidores da Loucura

Direção e adaptação de Fernando Meirelles da série canadense Slings and Arrows, Som e Fúria traz um elenco excelente e muito bem entrosado. A minissérie conta a história da Companhia de Teatro do Estado, após a morte de seu diretor artístico, Oliveira (Pedro Paulo Rangel). Passando por um momento de crise, a Companhia se vê obrigada a encontrar um novo de diretor artístico e também trazer mais patrocínio e público para o teatro.

Para substituir Oliveira entra Dante (Felipe Camargo), diretor da falida Sans Argent. Dante era um ator promissor da Companhia quando, em uma apresentação de Hamlet, esquece o texto e abandona o palco e também Ellen (Andréa Beltrão), sua namorada e companheira de teatro por acreditar que ela estava tendo um caso com Oliveira. Dante passa um tempo internado em uma clínica de psiquiatria e os rumores de sua loucura o acompanham após sua saída. Os rumores só aumentam, aliás, quando Dante passa a ver o fantasma de Oliveira que insiste em ajudá-lo nas novas montagens de Hamlet e Macbeth. Suas divergências são inevitáveis, já que Oliveira tem um perfil conservador, enquanto Dante questiona sempre qual a interpretação mais correta de cada cena e a intenção e motivação de cada personagem. Sua direção beira a obsessão, mas ao mesmo tempo trás uma nova visão e vigor para as montagens.

Além dos dramas dos atores e diretor, vemos também problemas administrativos e financeiros enfrentados pela Companhia que vê seu público, constituído em sua maioria pela terceira idade, diminuindo ou, nas palavras do publicitário Sanjay (Rodrigo Santoro), morrendo. Responsável por conseguir mais dinheiro para o grupo, o diretor financeiro Ricado Silva (Dan Stulbach) se vê diante de um dilema moral: seguir a ambiciosa e inescrupulosa Graça (Regina Casé), uma funcionário da Secretaria de Cultura, que quer fazer dele o novo diretor artístico e transformar a Companhia em um grupo de musicais; ou manter a Companhia com suas temporadas clássicas e confiar em Dante como diretor. Ao ver o sucesso de Hamlet, ele opta pela conservação dos padrões da Companhia e vai em busca de novos investimentos e uma nova campanha publicitária para atrair o público. Entra Sanjay e sua controversa campanha que causa muita polêmica, perda de patrocínios, público e deixa Ricardo a beira de um ataque de nervos, especialmente quando descobre o tamanho da ficha criminal do suposto Sanjay.

Em meio a romances e tragédias, fazemos uma viagem não só aos bastidores de um grupo de teatro, mas aos texto de Shakespeare (de quem sou fã). São entre trechos de Sonhos de uma Noite de Verão, Hamlet, Macbeth e Romeu e Julieta que conhecemos melhor os personagens, suas paixões e medos, insegurança e arrogância. O teatro, que infelizmente ainda não tem o devido valor no Brasil, é mostrado em sua intensidade e frivolidade.

Talvez por ser um universo tão diferente do cotidiano da maioria das pessoas, Som e Fúria tenha ficado ligeiramente abaixo da média de audiência do horário, o que é uma pena. Espero que isso não impeça que seja feita uma segunda temporada. Sim, existem planos de uma seqüência caso haja interesse de público, segundo Fernando Meirelles. Vamos torcer.

4 comentários:

Nathalya Buracoff disse...

Não acompanhei toda a temporada, mas os personagens eram engraçadíssimos. Faz falta algo de tanta qualidade na tv brasileira. Tomara que esta segunda temporada vingue!
Parabéns pelo texto!
Beijos

Equipe A voz da vez disse...

Kraaa parabens pela coluna, adorei. Realmente tb sou um fan dos textos de Shakespeare, e essa minisserie, só fez aumentar minha admiraçao pelo grande escritor Ingles.Fiquei triste por ter acabado e estou ansioso pela segunda temporada. Parabens, tu conseguiu em uma coluna extrair toda a essencia de Som e Furia, gostei muito

Marcus Alencar disse...

Eu também gostei muito de Som e Fúria e achei uma pena não ter conseguido acompanhar desde o inicio, o horário também não ajudou muito, essa série interessante e ao mesmo com uma boa dose de humor. Um ponto que achei interessante foi mostrar como funciona, de certo modo, a administração do setor da cultura, as discussões em torno do que o público realmente ``quer`` e tudo o mais. E o Dante é um personagem ótimo, rs, adorooo.

Ronaldo Junior disse...

Concordo com vocês, realmente o Som & Fúria foi uma série diferenciada e apesar dos índices de audiência não terem sido expressivos a qualidade foi visível.

Espero que este seja o primeiro de vários, pois pelo que soube foi a prmeira vez que a Globo comprou a produção pronta, sem interferência técnica nem artística!

Aguardemos a próxima!

Grande abraço aos nossos leitores!