Ah, as invenções humanas. Intervenções do homo sapiens na natureza ou no seu entorno que resultam em novos objetos, novas idéias, novos conceitos. Capacidade de criar algo a partir do nada, ou de valer-se de uma invenção para criar outra. Certamente é um daqueles marcos imaginários que dividem o mundo animal em seres pensantes e não pensantes.
Roda, dinamite, livro, lápis, máquina de escrever, faca, saca-rolhas (aliás, quem inventou a rolha?), copo de plástico, papel higiênico, absorvente, aparelho de barbear, sabão, cocaína, maconha, ópio. De uma maneira ou de outra, todas se valem de um mesmo propósito: auxiliar o homem em algum aspecto de sua vida. A dinamite, por exemplo, é ótima para demolir montanhas que serão substituídas por rodovias. Já a cocaína, a maconha e o ópio podem ser de muita valia para os que tentam fugir da realidade. Apesar dos pesares, isso tem lá sua utilidade. O problema, a meu ver, são os pesares.
O telefone foi uma invenção que realmente trouxe modificações na vida das pessoas. Falar com um parente, um amigo ou uma namorada do outro lado da cidade ou do mundo, é uma facilidade que altera profundamente o cotidiano das pessoas. É uma transposição fenomenal das barreiras espaço-temporais. Ao invés de ir à casa de um amigo discutir o destino do livro desaparecido da Poética de Aristóteles, telefono para saber sua opinião. Para marcar um encontro com uma moça, pronuncio palavras a um aparelho que se encarrega de transmití-las. Fácil assim.
O que falar do celular então? Além de conectar todos os lares, o telefone celular possibilita que se ache uma pessoa até se a mesma estiver no banheiro. Apesar disso, um retrocesso nas questões de individualidade e intimidade humana. Aqui, o problema não são os pesares. O ser humano precisa de um tempo só para ele, sem ser incomodado. Sua individualidade precisa ser estimulada, e não somente sua vida em sociedade. Precisa pensar sua existência, seus atos, suas crenças. Exercitar seu cérebro, para que possa continuar inventando novas coisas, e não só se apoiando nas já inventadas para sobreviver. E a possibilidade de ser encontrado a qualquer hora por um chefe ou por uma namorada controladora é altamente castrador, intelectualmente e individualmente. Quem guarda um telefone na cabeça, depois que embutiram agenda no celular? E as novas doenças da modernidade, a síndrome do celular vibrando, ou a nomofobia? A primeira é uma estranha mania de colocar a mão na perna ou na bolsa a cada vibração mais forte, achando que o celular está tocando. A segunda é chamada por muitos de abstinência eletrônica, termo que auto-explicativo. Esses males já tomam conta de muitas pessoas, mas poucos tomam consciência desses novos hábitos tão cotidianos quanto imperceptíveis.
As invenções devem facilitar a vida, mas a que preço? Estamos tão dispostos a essa mecanização da vida humana, que não nos importamos com o que estamos perdendo? É preciso cuidado ao abrir a caixa de Pandora, pois o fogo que ilumina o caminho é o mesmo que frita a pururuca.
2 comentários:
Tentei te ligar mas deu caixa postal...
A solução é to "Run to the hills"...
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