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segunda-feira, 21 de abril de 2008

Brave new world

Ah, as invenções humanas. Intervenções do homo sapiens na natureza ou no seu entorno que resultam em novos objetos, novas idéias, novos conceitos. Capacidade de criar algo a partir do nada, ou de valer-se de uma invenção para criar outra. Certamente é um daqueles marcos imaginários que dividem o mundo animal em seres pensantes e não pensantes.

Roda, dinamite, livro, lápis, máquina de escrever, faca, saca-rolhas (aliás, quem inventou a rolha?), copo de plástico, papel higiênico, absorvente, aparelho de barbear, sabão, cocaína, maconha, ópio. De uma maneira ou de outra, todas se valem de um mesmo propósito: auxiliar o homem em algum aspecto de sua vida. A dinamite, por exemplo, é ótima para demolir montanhas que serão substituídas por rodovias. Já a cocaína, a maconha e o ópio podem ser de muita valia para os que tentam fugir da realidade. Apesar dos pesares, isso tem lá sua utilidade. O problema, a meu ver, são os pesares.

O telefone foi uma invenção que realmente trouxe modificações na vida das pessoas. Falar com um parente, um amigo ou uma namorada do outro lado da cidade ou do mundo, é uma facilidade que altera profundamente o cotidiano das pessoas. É uma transposição fenomenal das barreiras espaço-temporais. Ao invés de ir à casa de um amigo discutir o destino do livro desaparecido da Poética de Aristóteles, telefono para saber sua opinião. Para marcar um encontro com uma moça, pronuncio palavras a um aparelho que se encarrega de transmití-las. Fácil assim.

O que falar do celular então? Além de conectar todos os lares, o telefone celular possibilita que se ache uma pessoa até se a mesma estiver no banheiro. Apesar disso, um retrocesso nas questões de individualidade e intimidade humana. Aqui, o problema não são os pesares. O ser humano precisa de um tempo só para ele, sem ser incomodado. Sua individualidade precisa ser estimulada, e não somente sua vida em sociedade. Precisa pensar sua existência, seus atos, suas crenças. Exercitar seu cérebro, para que possa continuar inventando novas coisas, e não só se apoiando nas já inventadas para sobreviver. E a possibilidade de ser encontrado a qualquer hora por um chefe ou por uma namorada controladora é altamente castrador, intelectualmente e individualmente. Quem guarda um telefone na cabeça, depois que embutiram agenda no celular? E as novas doenças da modernidade, a síndrome do celular vibrando, ou a nomofobia? A primeira é uma estranha mania de colocar a mão na perna ou na bolsa a cada vibração mais forte, achando que o celular está tocando. A segunda é chamada por muitos de abstinência eletrônica, termo que auto-explicativo. Esses males já tomam conta de muitas pessoas, mas poucos tomam consciência desses novos hábitos tão cotidianos quanto imperceptíveis.

As invenções devem facilitar a vida, mas a que preço? Estamos tão dispostos a essa mecanização da vida humana, que não nos importamos com o que estamos perdendo? É preciso cuidado ao abrir a caixa de Pandora, pois o fogo que ilumina o caminho é o mesmo que frita a pururuca.

2 comentários:

Ronaldo Junior disse...

Tentei te ligar mas deu caixa postal...

Nathalya Buracoff disse...

A solução é to "Run to the hills"...