Lendo o post de Narinha, lembrei-me de um interessante contista brasileiro, Caio Fernando Abreu, ou simplesmente Caio F., como ele assinava. De acordo com o site releituras, “Caio Fernando Loureiro de Abreu dedicou-se ao trabalho jornalístico no Centro e Sul do país, em revistas como Pop, Nova, Veja e Manchete, e colaborou nos jornais Correio do Povo, Zero Hora, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo.”
Em plena ditadura militar, em 1968, foi perseguido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), e refugiou-se no sítio da escritora e amiga Hilda Hilst, na periferia de Campinas. Após uma série de reviravoltas, no final de 1974, ele retornou a Porto Alegre, deslocado da rotina do Brasil dos militares: “tinha os cabelos pintados de vermelho, usava brincos imensos nas duas orelhas e se vestia com batas de veludo cobertas de pequenos espelhos”. Ao saber-se portador do vírus da AIDS, em setembro de 1994, Caio põe-se a cuidar de roseiras, encontrando um sentido mais delicado para a vida.”
Conheci Caio F. com uma carta atemporal e catalisadora: o texto Carta ao Zézim. Nele, o escritor responde uma série de dúvidas do amigo, o também jornalista, José Márcio Penido, e nela relata a criação do livro "Morangos Mofados", fala de sua admiração por Clarice Lispector e Dalton Trevisan e estimula o amigo a escrever.
Justamente esta parte do estímulo a escrever foi o que me motivou a participar deste blog e a estabelecer, cada vez mais, contatos com tato. Abro um parêntese: tato, vernáculo que, segundo o Houaiss, designa o sentido pelo qual se conhece ou percebe; prudência; tino; sutileza e sensibilidade para se expressar. A palavra tato vem do latim (língua adorável) que significa tangère, ou tocar, no sentido físico e moral, transitivo e absoluto.
Sinto-me, de fato, tocada sempre que escrevo algum post, pois imagino que este texto pode, também, tocar a todos vocês. Interagir e interferir na vida de algum leitor desavisado, na maneira como esta pessoa percebe a vida. Ele toma asas e deixa de ser meu para pertencer a todos aqueles que o roubam para si, tirando-o desta rede virtual cibernética e sem fronteiras.
Voltando a Caio, na Carta ao Zézim ele diz:
“Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai andar”.”
“Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? Danem-se, demônios. Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo?"
Em plena ditadura militar, em 1968, foi perseguido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), e refugiou-se no sítio da escritora e amiga Hilda Hilst, na periferia de Campinas. Após uma série de reviravoltas, no final de 1974, ele retornou a Porto Alegre, deslocado da rotina do Brasil dos militares: “tinha os cabelos pintados de vermelho, usava brincos imensos nas duas orelhas e se vestia com batas de veludo cobertas de pequenos espelhos”. Ao saber-se portador do vírus da AIDS, em setembro de 1994, Caio põe-se a cuidar de roseiras, encontrando um sentido mais delicado para a vida.”
Conheci Caio F. com uma carta atemporal e catalisadora: o texto Carta ao Zézim. Nele, o escritor responde uma série de dúvidas do amigo, o também jornalista, José Márcio Penido, e nela relata a criação do livro "Morangos Mofados", fala de sua admiração por Clarice Lispector e Dalton Trevisan e estimula o amigo a escrever.
Justamente esta parte do estímulo a escrever foi o que me motivou a participar deste blog e a estabelecer, cada vez mais, contatos com tato. Abro um parêntese: tato, vernáculo que, segundo o Houaiss, designa o sentido pelo qual se conhece ou percebe; prudência; tino; sutileza e sensibilidade para se expressar. A palavra tato vem do latim (língua adorável) que significa tangère, ou tocar, no sentido físico e moral, transitivo e absoluto.
Sinto-me, de fato, tocada sempre que escrevo algum post, pois imagino que este texto pode, também, tocar a todos vocês. Interagir e interferir na vida de algum leitor desavisado, na maneira como esta pessoa percebe a vida. Ele toma asas e deixa de ser meu para pertencer a todos aqueles que o roubam para si, tirando-o desta rede virtual cibernética e sem fronteiras.
Voltando a Caio, na Carta ao Zézim ele diz:
“Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai andar”.”
“Você quer escrever. Certo, mas você quer escrever? Ou todo mundo te cobra e você acha que tem que escrever? Sei que não é simplório assim, e tem mil coisas outras envolvidas nisso. Mas de repente você pode estar confuso porque fica todo mundo te cobrando, como é que é, e a sua obra? Cadê o romance, quedê a novela, quedê a peça teatral? Danem-se, demônios. Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheria esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é uma questão de honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever? Isolando as cobranças, você continua querendo?"
"Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito / diz pra ti o que não gostas de ouvir / diz tudo". Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que é a única coisa que pode nos salvar da loucura, do suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida.”
Assim como Caio, “escrevendo, eu falo pra caralho, não é?!”
Então, confira aqui, a íntegra do texto e descubra o que motiva esta jovem moça que vos escreve a fazer comtatos com você, leitores deste singelo e apaixonado blog.
Assim como Caio, “escrevendo, eu falo pra caralho, não é?!”
Então, confira aqui, a íntegra do texto e descubra o que motiva esta jovem moça que vos escreve a fazer comtatos com você, leitores deste singelo e apaixonado blog.
3 comentários:
Eu ainda acredito num happy end, num beijo da Doris Day e Rock Hudson no fim. Muito bom!
É um achado. Só descoberto por mim mexendo em algumas gavetas...
Nathálya é cultura
contato é com tato
escrever é dizer
e viver é morrer.
O que será de mim se não ser?
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